quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"A Violência que Mata é Sinal de que estamos LONGE de SER AQUILO QUE DEUS GOSTARIA QUE FÔSSEMOS!" - 10 de Janeiro de 2013

Queridos irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Gostaria de partilhar com cada um (a) de vocês uma experiência que fiz nessa tarde: fui fazer a Celebração de Corpo Presente de um Jovem assassinado, de forma bruta e violenta, na manhã de ontem, indo para o seu trabalho, na Região de Santo Amaro, SP.

Num primeiro momento, quando fui avisado do ocorrido, me coloquei à disposição para fazer aquilo que, em minha atuação pastoral, é muito comum: afinal de contas, realizar Celebrações de Corpo Presente, é algo que faço já há alguns anos em minha vida.   Até aqui, nada de novo, apesar  da Celebração de hoje ter sido de um jovem, filho de um Casal de nossa Comunidade Paroquial.

Tendo falado com a mãe do rapaz em questão, ainda nessa manhã (10/01), me coloquei de prontidão para que, assim que fosse liberado o corpo para o sepultamento, eu pudesse me dirigir ao Cemitério para realizar a minha função como Padre.   Porém, ao chegar no Cemitério indicado para o sepultamento, algumas reflexões comecei a fazer e, um pouco delas, gostaria de expor aqui para vocês.

Um fator que, de cara me chamou a atenção, veio do local, do Cemitério que, apesar de já ter estado lá muitas vezes, me pareceu que hoje, algo diferente me aconteceu.   Estou falando do Cemitério São Luis, conhecido como o local de enterro dos "pobres", dos "miseráveis", dos "indigentes", daqueles para os quais a "vida foi totalmente cruel", lhes negando a possibilidade de, simplesmente, VIVER - um direito tão normal, que chega a ser banal!   Aquele espaço - física e geograficamente falando - me fez pensar: Por que, até na hora da morte, as diferenças sociais ainda são tão gritantes?   Aliás, me pareceu que, ali e naquele momento de dor, de tristeza, de morte ... as diferenças gritam mais.   No rosto das pessoas ligadas diretamente a um daqueles mortos, a dor estampada pela perda mas, também, a dor por não poder oferecer, nem naquele momento, algo "mais digno para aqueles que tanto amaram em vida";

Outro fator que me chamou a atenção é a maneira como alguns tratam a situação de dor, de morte que perpassavam aquele espaço: a frieza, o distanciamento, o aspecto "natural" e o tocar a vida adiante demonstrado, sobretudo, pelos funcionários do local.   A morte é algo que faz parte do seu cotidiano e, digo mais, é da morte e da dor de muitos que eles retiram a sua própria sobrevivência. Contraditório, mas... é assim que as coisas me pareceram hoje;

Outro fator, de extrema importância, foi a causa da morte - pelo menos, daquele que foi o motivo da minha ida àquele local: a VIOLÊNCIA!   O rapaz, com apenas 28 anos, foi morto, de forma brutal, quando estava indo para o seu trabalho, por volta das 06:00h, de ontem, na Região de Santo Amaro, SP (pelo menos, foi isso que escutei por lá).   E, fiquei pensando: "Meu Deus, aonde tudo isso vai parar?"   Mas, no mesmo instante, comecei a pensar na situação à Luz da Fé, à Luz da Palavra de Deus e, me recordei de passagens bíblicas referentes à PRÁTICA DA FÉ para se provar a sua VERACIDADE; me recordei que quando não fazemos a nossa parte, o mal cresce e avança sobre nós mesmos, fazendo as suas vítimas, cada vez, mais perto de nós; me recordei, ali naquele local, que Deus é Amor mas, ao contrário dessa Verdade de Fé, eu estava diante de uma vítima do Desamor, do Ódio que gera Violência e, esta que MATA, quando Deus é o Deus da Vida porque AMA; percebi, ali, naquele lugar, como é difícil ser CRISTÃO, como é difícil VIVER, na PRÁTICA, a FÉ que professamos, tão espontaneamente, com os lábios (aliás, somente no período em que estive por lá, rezamos por três vezes, a nossa Profissão de Fé nesse Deus da Vida e que morreu para nos Salvar (meio incoerente, não acham????);

Outro fator que me chamou a atenção foi a percepção que tive, muito claramente, que o nosso Deus é, de fato, a única ESPERANÇA dos POBRES desse mundo.   A simplicidade de tudo que vi, me trouxe à tona, mais essa reflexão: as flores, o caixão, aquele que estava no caixão, as pessoas que choravam ao seu redor (pais, irmãos, amigos mais próximos)... tudo era de uma simplicidade que, a presença de Deus foi sentida por mim com grande força que, por alguns momentos, chorei...   Chorei por me sentir indigno... chorei por não corresponder àquilo que o Senhor espera de mim... chorei por não conseguir fazer alguma coisa - concretamente falando - para manifestar a minha Fé nesse Deus, aliado e companheiro dos pobres, dos pequenos, dos que sofrem... chorei por ficar no meu canto confortável e não perceber o avançar da morte com suas garras sobre os preferidos do Senhor... chorei... chorei... chorei... quietinho no meu canto, talvez, por vergonha de mim mesmo e de tudo que não tenho feito em minha vida...

A fala da mãe, foi outro fator que me chamou a atenção.   Dizia ela: "Meu filho... sofreu tanto em vida e até na hora da morte ... Deus perdoe os seus pecados ... Agora você parou de sofrer..."   Essas palavras, apesar do choro e da dor manifestos, revelavam uma Fé que eu não sei se tenho comigo pois, ainda encontrava forças para dizer (a mãe): "Meu ouro... meu tesouro que Deus me deu... Deus me deu, Deus me tirou, louvado seja o nome do Senhor... Perdoa a sua mãe ..."

Estou até agora (17:43h) embargado, me questionando e, não me cabendo em mim, resolvi escrever.   Na verdade, nem sei se essas reflexões servirão para alguém ou para alguma coisa mas, não consegui guardar comigo esses sentimento que me deixaram - não digo, mal mas... - no mínimo, reflexivo.   Acho que o  tempo está deixando as suas marcas em mim e me tornando mais "sensível" - não sei se seria essa a palavra mais adequada mas, na falta de outra melhor... - com a situação ao meu redor e, o tempo que passa vem me questionando sobre o que, de fato, eu tenho feito de concreto pela Fé que digo ter!

Peço desculpas pelo desabafo e espero, sinceramente, que estas reflexões possam ajudar, de alguma forma, aqueles (as) que desejam ser mais o que Deus está desejando de nós!

Obrigado pela atenção!

Pe.Ezaques Tavares

Um comentário:

  1. Pe. Ezaques...
    Linda partilha... lendo tudo isso só consigo lembrar da passagem de Romanos 8, 19 - "A criação espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus" Infelizmente, vivemos nossa fé muitas somente dentro das igrejas, quando muito nos nossos lares...
    Que o Espirito Santo continue nos incomodado e nos impulsionando a fazer a nossa parte.

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