sexta-feira, 25 de março de 2011

Terceiro Domingo da Quaresma - 27 de Março de 2011

Amados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Continuamos as nossas reflexões neste Tempo da Quaresma fazendo uma breve recordação da nossa caminhada até aqui.   Na quarta-feira de cinzas, abrindo este Novo Tempo Litúrgico, fomos convocados pelo Profeta Joel a viver este momento como momento para "rasgar os nossos corações e não as nossas vestes" e, já aqui, percebíamos que para Deus o que irá contar é o nosso "coração contrito e arrependido e, não, os nossos sacrifícios externos" como nos lembrava o Salmo 50 daquele dia.   Já o Apóstolo Paulo, na segunda leitura  escrevendo pela segunda vez aos Cristãos de Corinto nos convidava a entender este Novo Tempo como sendo um "Tempo de Graça e de Reconciliação" e, implorava, em nome de Deus: "Deixai-vos reconciliar com Deus!"   Já o Evangelho nos apontava práticas que podem, se bem vividas e dentro do Espírito Quaresmal nos aproximar de Deus (Oração) e dos Irmãos (Esmola e Jejum).   Além disso, a recepção das cinzas (sinal) nos chamava a atenção pra necessidade de não perdermos a verdade sobre nós ("somos pó e ao pó vamos voltar") e, tal gesto de receber as cinzas, nos impelia a transformar em cinzas, isto é, em pó ou, melhor ainda, a nada, tudo aquilo que, às vezes nos faz pensar que somos mais do que, de fato, somos: o nosso pecado - Quaresma é Tempo de Conversão!

Já no primeiro domingo da quaresma, fomos colocados frente à realidade das Tentações = obra do diabo.   Percebemos que o ser humano é tentado independetemente de sua vontade ou, até mesmo, de sua adesão à vontade de Deus.   Somos tentados e ponto final!   Daí, a questão: se somos tentados independemente de nossa vontade, o que devemos fazer pra vencer tais tentações?    De acordo com a Palavra daquele domingo, vencer as tentações só será possível quando aprendermos a ouvir a voz de Deus e assumí-la como Verdade em nós.   Se temos nos exemplos de Adão e Eva (primeira leitura) o modo como se cai na tentação (escuta da voz do diabo e fechamento à voz de Deus), encontramos no Evangelho de Mateus, a receita, oferecida por Jesus, para ssairmos vencedores: às investidas do diabo, Jesus responde: "ESTÁ ESCRITO..."   Usando a Palavra, Jesus vence o mal e nos deixa  o exemplo.

No segundo domingo, percebemos que, em muitos momentos as tentações são muito severas e fortes e, acabam nos balançando e, aqui, neste momento, a fidelidade à voz do Pai, se faz mais necessário.   A história de Abrão (primeira leitura) nos levou a tal reflexão quando este se tornou capaz de abandonar tudo e partir para uma terra estrangeira (sem nenhuma segurança de que a encontraria), confiado, única e exclusivamente, na Palavra de Deus e na sua proposta.    No Evangelho, Jesus é transfigurado e, este episódio serviu para reanimar os discípulos que haviam passado por uma experiência com a Palavra não muito agradável (o capítulo 16 de Mt revela o tipo de Messianismo que Jesus veio revelar e, os discípulos ficaram chocados: renúncia, cruz, morte!)    Subir à Montanha e comtemplar o Rosto Divino de Jesus dá aos discípulos um novo ânimo pois, estes reconhecem a Divindade presente na humanidade de Jesus e, por conseguinte entendem o que lhes estaria reservado, caso fossem fiéis até o fim!

Depois deste resuno geral de nossa caminhada até aqui, vamos à Palavra deste terceiro domingo.

Hoje, a Palavra nos apresenta o tema da Água (primeira leitura e Evangelho) e, ligada a este tema,nos faz pensar na questão da sede e, todos os problemas que a ausência da Água pode produzir, as tentações de blasfemar e de duvidar da Ação de Deus nestes momentos de falta d'água e, como Deus nos responde generosamente.   Vejamos:

Na primeira leitura (Êx 17, 3-7), a experiência do Deserto vai se tornando dura demais: o calor, o cansaço, o frio, o medo dos animais que habitam este espaço, a fome, as investidas do inimigos e, sobretudo, a SEDE = falta d'Água vão minando a confiança que a Comunidade - por conta dos prodígios da Libertação - havia depositado em Javé.   A não satisfação das necessidades é uma porta aberta para que o diabo se apresente e conduza o Grupo do Deserto para a descrença, para a falta de Fé na Palavra de Javé que tudo sustem.   Pensam que Javé - o Deus da Vida e da Libertação - tenha retirado cada um (a) deles (as) do Egito para "matá-los" a todos (as) naquele lugar de privações.   Aqui, encontramos um pecado gravíssimo: Javé, o Deus da Vida, é considerado o deus da Morte = um ídolo.    O Grupo murmura, reclama e, "quase apedreja o líder Moisés".   Porém, o Deus da Vida se revela com sua força de Vida e, por meio de Moisés faz jorrar Água da Rocha no meio daquele Deserto.   Aqui, percebemos a verddadeira face de Deus: Ele é Amor, Compaixão e, não nos pune em proporção às nossas faltas.    Entende as nossas fraquezas, nossas faltas de Fé e, para nos reanimar na caminhada nos apresenta o melhor, o necessário para a manutenção de nossas vidas.

No Evangelho (Jo 4, 5-42), o tema da Água volta, só que agora, Jesus vai um pouco mais além, nos revelando que somente Ele pode saciar a nossa sede verdadeira de modo a não passarmos mais pelos dissabores que a sede provoca em nós.   O episódio do Diálogo de Jesus com a Samaritana é cheio de pormenores que devemos ter atenção para conseguirmos entender o real sentido do texto.  

Primeiramente, vemos Jesus num poço e no calor do meio dia.   A iamgem do Poço é cheia de significados para o mundo bíblico: no poço se travam conversas, as caravanas param para saciar a sede dos seus e dos animais, no Poço há encontros amorosos.   Tudo isso a imagem do Poço evoca (cf.: Gn 24, 10-25; 26, 15-25; 29, 1-14; Êx 2, 15-21).   Ver Jesus próximo ao Poço deverá trazer à tona essas ideias ou, pelo menos, uma delas.   Depois, Jesus se mostra, mais uma vez, como Aquele que não está preso às "convenções" quando estas estão à serviço da discriminação e, por sonseguinte, ao afastamento entre as pessoas.   A surpresa da Mulher Samaritana ao se perceber dialogando com um homem e, pior ainda, com um homem Galileu/Judeu é explicado pela situação da época que impedia homens de dirigir a palavra às mulheres e, no caso em questão, a situação ficou pior por conta da questão das raças pois, Judeus e samaritanos não se davam e eram inimigos ferozes.    Jesus não dá atenção a tais questões, talvez por ter objetivos mais nobres, melhores que são o resgaste integral da vida de cada ser humano.

Numa conversa, aparentemente sem nenhuma grande pretensão (isso é típico de Jesus), Jesus vai aos poucos fazendo com aquela samaritana um caminho, propondo um intinerário de Fé: começa pedindo água pra beber; depois avança afirmando que Ele poderia oferecer uma Água diferente que, se bebida jamais se voltar a ter sede; a mulher não entende essa linguagem e se mostra aberta pra beber essa Água mas, somente para não ter que voltar lá pra buscar (trabalho penoso, penso eu, para as mulheres daquele tempo).   Jesus segue no seu diálogo e, se mostrando conhecedor da vida daquela mulher,a deixa espantada.   Percebemos que, na medida em que o Diálogo segue, os títulos que a mulher dá a Jesus também vão se aperfeiçoando: no início Jesus é somente um homem, depois um homem estrangeiro, depois um advinho, um profeta, o Senhor e, por fim o Messias.

A experiência com Jesus, leva aquela mulher à compreensão de que Jesus é o legítimo Messias esperado e, como tal, capaz de revelar os desejos do Pai para toda a sua Comunidade, para o Mundo.   Aprende que os adoradores que agradam a Deus são aqueles que não se deixam enredar pelos critérios humanos (é aqui ou ali que se deve adorar e dessa e/ou daquela forma) mas, é preciso adorar em Espírito e em Verdade , isto é, com a Vida.   Aquela mulher vai tomando consciência de sua real condição de pecadora e, se abrindo à graça acabará se tornando uma apóstola que levará uma cidade inteira (a sua, no caso) a fazer a experiência que ela acabara de fazer e, descobri o que acabara de descobrir: Jesus é o Senhor e o Messias Esperado por todos!

Às vezes, como aquela mulher samaritana perdemos o nosso precioso tempo buscando saciar a nossa sede nos poços colocados à beira da estrada de nossas vidas.   Porém, é preciso entender que tais "poços" oferecem uma água que sacia, momentaneamente, a nossa sede.   Por isso, temos que voltar várias vezes pois a sede volta e, às vezes, com maior intensidade e exige cada vez mais água.   Jesus é Aquele que pode oferecer a Água Viva que, quando experimentada, sacia a nossa sede de fato e, melhor ainda, nos torna fontes a jorrar pelo Mundo afora.   Por vezes, deixamos de lado a Fonte de Água Viva e, "cavamos cisternas rachadas que não retem água alguma" nos desertos de nossas vidas, como nos fala o Profeta Jeremias.

Por fim, aquela mulher samaritana é fugura de todo o Povo de Deus que ao longo de sua vida (vira e mexe) abandonou o seu verdadeiro Amor para correr atrás de amantes que só fez explorar e deixar caída à beira do caminho (lembre-se: aquela mulher teve cinco homens = amantes mas, nenhum deles era o seu marido de fato).   Jesus é a o Deus que se fez Homem para resgatar a sua Esposa = seu Povo (lembre-se Israel é um termo em hebraico usado no Feminino).    Não importa o que tenha feito, o Amor de Deus pela sua Esposa = seu Povo é eterno e sem limites (veja primeira leitura de hoje).    Cabe a cada um de nós, como nos fala o Apóstolo Paulo na segunda leitura (Rm 5, 1-2.5-8) acreditar que  Deus colocou em nossos corações o Seu Espírito e, que O mesmo gera em nós a Esperança e, que esta jamais nos decepcionará.   O Amor infinito de Deus foi provado ao oferecer o Seu Único Filho em resgaste por todos nós que não merecíamos.   Isso é Amor de fato que, quando somos capazes de experimentar, temos a nossa vida transformada como a vida daquela mulher samaritana que representa todos e cada um de nós que nos enveredamos por mil e um caminhos mas, mais cedo ou mais tarde, nos deparamos com Aquele que tem pra nós a Água que pode saciar a nossa sede mais profunda.    

Façamos a experiência e comprovemos a Verdade da Palavra de hoje!

OREMOS:

Ó Deus de Amor e Misericórdia, hoje queremos te louvar por nos levares à compreensão do quanto somos amados e queridos por Ti.   Só Tu tens a Água que pode saciar a nossa Sede.   Só Tu és a Fonte de onde poderemos tirar essa Água.   Concede-nos, Te pedimos, que nesta caminhada quaresmal as nossas vidas se voltem para Ti com maior intensidade e, que, nos desprendendo e nos desviando dos "poços" falsos, encontremos em Ti a razão de nossa existência.   Isto Te pedimos, ó Pai, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Teu Filho e nosso Irmão, que Contigo vive e reina, na Unidade do Espírito Santo!   Amém! 

   

terça-feira, 22 de março de 2011

O Desafio da Convivência com o Diferente (Texto sobre "Educação e Diversidade")

A sociedade em que vivemos é, essencialmente, multicultural e diversa.   Basta olharmos em nosso entorno para percebermos as imensas diferenças existentes entre nós e os outros.   Há diversidade de pensamentos, de hábitos, de religião, de raça, de classe social, de opção sexual, de gênero, entre outros.   Assim sendo, algumas perguntas se fazem necessárias e urgentes: "Como conviver com tamanha diversidade?"  "Como aceitar o diferente e, mais ainda, perceber o diferente como algo necessário para o nosso próprio crescimento e para a própria afirmação de nossa identidade?"   "Por que o diferente, em muitos momentos, nos deixa armados?"   Essas questões incitam todos nós a refletir uma vez que não é possível viver isolado do mundo e,consequentemente, das pessoas.

Entre as várias Instituições Sociais que possuem a capacidade de formar opinião, acredito que a Escola (que tem a formação como sua principal função), não pode renunciar a essa discussão e, para responder a estas e tantas outras questões, não poderá fechar os olhos para as mesmas.   Perceber o Processo Educacional extremamente vinculado ao ambiente cultural em que se está inserido, entender a sociedade como uma espécie de "colcha de retalhos cultural", nos fará compreender que tal Processo Educacional não pode ocorrer de forma "neutra" mas, sofrerá as influências do seu meio social.

A Escola é desafiada, a cada dia, a se tornar um espaço privilegiado de produção cultural trazendo para dentro de si mesma a diversidade apresentada pelo mundo que a cerca.   O Multiculturalismo é uma realidade e não pode mais ficar abafado como se não existisse de fato.   Aceitar essa verdade trará consequências para o próprio ambiente educacional.   Se vivemos numa sociedade diversificada e, nas nossas diferenças, temos os mesmos direitos, como fazer para que a Educação seja uma garantia de todos (caráter universal)?   Se for oferecida a todos, como garantir a Qualidade da mesma?   Como trabalhar os Projetos Políticos Pedagógicos e os Currículos de modo que os mesmos contemplem essa Diversidade e o respeito à mesma?   Como fazer com que o respeito à Diversidade seja parte da vida interna da Escola?

A resposta a tais questões exigirá uma reelaboração do espaço escolar, fazendo com que seja uma espaço de Ensino-Aprendizagem, de Construção do Conhecimento e, sobretudo, de inserção no seu Contexto Sociopolítico e Cultural.   Educação e Cultura são como "lados de uma mesma moeda"!   O estabelecimento da real relação entre essa duas realidades é extremamente difícil e complexa.

Olhando o nosso mundo, percebemos que há duas formas comuns de lidar com a questão da diversidade.   Por um lado, há a assimilação do diferente aos padrões que estão aí estabelecidos.   Reconhece-se o diferente mas exige-se que o mesmo se curve à Cultura tida como hegemônica.   Por outro lado, percebemos o desejo de separar o diferente, segregando-o como algo que está "fora da normalidade".   A Escola deve funcionar como um espaço de respeito às diferenças pois nela (Escola) ocorre um cruzamento de culturas e, uma não pode ser considerada melhor que a outra e, o diferente não pode ser considerado algo "anormal".   A Escola deve saber lidar com as diferenças e ensinar os seus a lidarem com as mesmas.

Porém, o que percebemos é que a Escola está passando por uma espécie de "crise", não conseguindo lidar com os desafios que a sociedade está lhe colocando e, também, não conseguindo acompanhar as mudanças pelas quais a sociedade vem passando.

No Brasil ainda há uma enorme dificuldade de lidar com a diversidade que lhe é própria.   Neste ambiente extremamente diverso (Brasil), três situações ainda são gritantes: a questão da raça (sobretudo a negra), da opção sexual (sobretudo, o homossexualismo) e, da religiosidade (sobretudo, as Seitas e as Religiões de Matrizes Africanas como o Candomblé).   A nossa realidade brasileira é extremamente marcada pela ideia da eliminação do diferente, da escravização e negação da alteridade do outro, pelo massacre de culturas e pela subordinação e exclusão daqueles que são considerados inferiores.

Apesar dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) reconhecerem a pluralidade cultural existente no Brasil, esteriótipos e visões ultrapassadas referentes à Diversidade ainda perduram em nossos ambientes educacionais e, ainda, apresentamos enormes dificuldades para discutir o tema do preconceito racial e étnico.   É preciso encarar a Diversidade de forma positiva para que as Desigualdades Sociais deixem de existir ou, pelo menos, diminuam entre nós.

Esse é um desafio que se nos impõe.   Fechar-se a ele poderá ser o caminho mais fácil porém, não dará à Escola as condições para se tornar aquilo para o qual ela existe:  formação da Pessoa em todas as suas dimensões.

Que Deus nos ajude a aceitar o outro como  o outro se apresentar a nós!

P.S.:  Este é um texto produzido a partir das aulas de "Educação e Diversidade" e, feito especialmente, para os meus alunos, porém, todos podemos tirar dele algumas lições para a nossa vida cotidiana!
Aproveitem para refletir à respeito deste assunto tão amplo e tão instigante! 





  


   

quarta-feira, 16 de março de 2011

II Domingo da Quaresma - 20 de Março de 2011

Amados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!
Mais uma vez, nos encontramos aqui, para refletirmos a Palavra que Deus nos apresenta neste segundo domingo da quaresma.  

Retomando a nossa caminhada desde a quarta-feira de cinzas (quando demos início a este Tempo Litúrgico), temos:   o convite que o Senhor nos fez a "rasgar o nosso coração e não as nossas vestes", aproveitando este tempo como sendo "tempo de graça e de reconciliação".   Para tanto, o Evangelho da quarta-feira de cinzas nos apresentava o tripé sobre o qual deveríamos construir esse nosso caminho de conversão, a saber: a oração, o jejum e a esmola (cada um desses elementos, entendidos dentro da espiritualidade bíblica: abertura para Deus (oração) e, abertura para o próximo (esmola e jejeum)).  

No primeiro domingo, vimos que, em nossa caminhada temos duas possibilidades de nos relacionarmos com Deus: a primeira nos apontou o fechamento do ser humano à Voz de Javé, o que o levou a ceder à tentação do diabo (desobediência original = "comer o fruto da árvore do centro do Jardim, árvore da ciência do conhecimento do bem e do mal) e, a segunda, aonde pudemos ver Jesus numa atitude oposta à de Adão e Eva: respaldado pela Palavra ("está escrito..."), consegue vencer as tentações apresentadas pelo mesmo diabo.   Entendemos, assim, que a Palavra de Deus é a chave que pode nos levar ao pecado (quando não damos ouvidos a Ela = Palavra = Adão e Eva) ou, que nos liberta da tentação (quando damos ouvidos a Ela e a pomos em prática = Jesus no Evangelho).

Feita essa pequena revisão de nossa caminhada até aqui, podemos avançar em nossa reflexão.

Depois do pecado das origens (refletido no primeiro domingo), a Palavra de Deus narra uma sucessão de fracassos produzidos pela humanidade por conta do aumento da prática do pecado (adesão ao Diabo).   Assim, temos o assassinato de Abel por seu irmão Caim, o Dilúvio e a Torre de Babel.   Esses são episódios que demonstram o poder devastador do pecado na vida da Humanidade.   Daí, nos perguntamos:   "Diante destes episódios, teria Deus se esquecido e, por conseguinte, abandonado a Obra de Suas Mãos para sempre?"   O episódio da primeira leitura de hoje (cf. Gn 12, 1-4a) vem nos mostrar que não.   Neste texto, vemos Javé tomando a iniciativa, mais uma vez, de se aproximar do Homem: o escolhido, agora, é Abrão!   A este, Deus se apresenta e lhe faz um convite, uma proposta: "Sai da tua terra... e vai para a terra que Eu te vou mostrar."   Percebemos, neste trecho, que a iniciativa do encontro é sempre de Deus.   É Deus quem corre atrás, tomando a inciativa, propondo, mas, em contrapartida, exigindo adesão plena e total (experiência de Fé).    Diante da proposta podemos nos posicionar a favor ou contra, aceitar ou rejeitar.   No entanto, é preciso estar atento à promessa que Javé faz: descendência e bênção (além, mais tarde, da posse da terra).   Essas eram, talvez, as grandes necessidades de Abrão, seus grandes desejos.   Javé se aproxima do Homem se mostrando como O único capaz de satisfazer suas reais necessidades.   Não existe outro que possa fazer isso pois somente Javé (que nos criou = domingo passado) sabe do que precisamos, de fato, para viver e, quais são os nossos mais profundos anseios.   Diante do convite, da proposta, vemos Abrão responder prontamente, sem hesitação: "E Abrão partiu como o Senhor lhe havia dito!"   Esta atitude de Abrão se tornou um fato tão importante e expressivo na História da Salvação, que o mesmo se tornou o Ato de Fé por excelência e, Abrão se tornou o Pai dos Crentes, o Pai da Fé.   A Fé, quando é madura e verdadeira, nos oferece as mesmas disposições de nosso Pai Abrão: diante da proposta de Javé que, diaga-se de passagem, nem sempre compreendemos, nos lançamos sem reservas por entender que Ele (Javé) sabe o que é melhor e, só pode nos oferecer o melhor.   Do Homem, Javé espera uma resposta consciente, sincera e generosa ao seu apelo.

O caminho trilhado por Abrão não foi fácil, assim como não é fácil o caminho de todo (a) aquele (a) que se dispõe a seguir Deus.   O fato de vivermos neste mundo (contrário aos valores do Reino) nos deixa, em muitos momentos, em enormes encruzilhadas que exigem de nós escolhas radicais: ou Deus, ou o Mundo.   Não nos é dado a possibilidade de ficar dando "jeitinhos" para estarmos bem com ambos.

Com Jesus e seus discípulos essa verdade de ter que fazer uma opção, também esteve presente e, também, se mostrou complicado fazê-la.   Após a exigência, feita por Jesus aos seus discípulos, de arriscar tudo por  Amor a Ele, estes ficam meio apreensivos e pensativos (cf. Mt 16, 24-28).   Percebendo tal apreensão, Jesus decide revelar, na Transfiguração, quem Ele era.

Penso, que num primeiro momento, é importante atentarmos para o próprio termo "Transfiguração".   Transfigurar é, em última instância, mudar de figura, apresentar-se de outra forma, mudado, novo.   Até aquele momento, acredito que os discípulos seguiam Jesus mas não sabiam, direito, quem Ele era.   Jesus falava bem, realizava milagres é verdade mas, até aquele momento, não tinha manifestado a sua "Real Identidade", isto é, Deus que se fez Homem para que o Homem voltasse a gozar da sua Imagem e Semelhança com a Divindade (fato este perdido por conta do pecado das origens visto semana passada).   Diante das exigência de seguimento do Mestre, nos perguntamos como os discípulos: "Será que vale à pena?"   A Transfiguração é uma resposta de Jesus de modo a produzir nos discípulos a coragem de seguí-Lo.  

Seis dias depois das exigências feitas, "o Senhor toma consigo Pedro, Tiago e João e, subindo num Monte, se transfigura diante deles".   Subir ao Monte é sintomático pois o Monte, na Biblía, significa o espaço da Divindade, espaço aonde a Divindade se revela.   Jesus, no alto do Monte se revela como Aquele que veio para levar a bom termo tudo que antes Dele havia sido escrito (Lei = Moisés) e falado (Profecia = Elias).   Pedro se maravilha diante daquela visão beatífica e, como sempre faz, movido pelo impulso, quer ficar naquele local de glória: "Senhor, é bom ficarmos aqui.   Se queres..."   Sem que terminasse a sua fala, uma voz se fez ouvir do meio da nuvem que os encobria a todos: "Este é o meu Filho amado... Escutai-O!"   O Pai nos apresenta Jesus como o seu Filho e, como tal, é preciso escutar o que Ele diz.   Ouvir a voz do Filho amado é fazer o caminho de volta ao Paraíso que, os nossos primeiros pais, por não terem dado ouvidos à Voz do Pai (domingo passado), perderam.   Jesus é a resposta definitiva do Pai aos anseios da humanidade que deseja regressar ao Paraíso.   Aderir a Jesus e à Sua Proposta é a única forma de reavermos o Paraíso que o nosso pecado fez-nos perder.

Acreditar como Abrão e como os discípulos não é tarefa simples, nem fácil.   Exige de nós renúncias, lutas constantes, entregas sem reservas de nossas vidas ao Pai, aceitar sofrer por Amor as contradições de uma vida voltada para os valores eternos porém, ainda presa a este mundo provisório.   Deixar-se transfigurar (mudar de figura, deixar transparecer em cada um de nós a Imagem e Semelhança de Deus) no meio do mundo mergulhado na imagem e semlhança do diabo, é a grande proposta que a Palavra de Deus nos faz hoje.

OREMOS:

Deus Pai de Amor, nós Te louvamos, bendizemos e agradecemos por Tua Palavra que nos revelou o Seu desejo de renovar conosco a Aliança que o nosso pecado fez perecer.   Dá-nos a graça da transfiguração e, refaz em todos nós, a Tua Imagem e Semelhança, tornando-nos capazes de revelar, com nossas vidas, a Tua Verdade!   Isto Vos pedimos, pelos merecimentos de nosso Senhor Jesus Cristo, que Convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo!   Amém!

Textos para aprofundamento: Gn 12, 1-4a; 2 Tm 1, 8b-10 e Mt 17, 1-9

             

quinta-feira, 10 de março de 2011

"A Banalização da Vida"

Assistindo aos telejornais nos últimos dias, algumas notícias me chamaram a atenção por portarem, todas elas, um elemento comum: a Banalização da Vida!   Tais notícias trataram da frieza com que o ser humano vem sendo capaz de tirar a vida do seu semelhante por qualquer motivo.    Brigas de adultos, falta de condições financeiras, bebidas, assaltos ... tudo parece ter se tornado motivo para colocar um fim ao grande dom de Deus: a Vida!

A primeira notícia vem da Baixada Fluminense: uma moça, aparentemente perturbada, foi capaz de entrar na casa de seu "amante" e subtrair daquele lar uma menina de 06 anos: Lavínia.   Por não conseguir um valor de $2.000,00, esta moça, subtraiu a menor, a levou para um hotel e, a matou estrangulada com o cardasso do tênis da referida menina.   Depois de tentar sufocá-la com as mãos, com o travesseiro, encerrou a vida da Lavínia de forma cruel e fria.   Feito isso, ainda foi capaz de esconder o corpo debaixo da cama e sair, como se nada tivesse acontecido.

Outra notícia, vem de Minas Gerais (Araxá) aonde, parece que uma mãe, no auge do desespero, foi capaz de lançar, rio abaixo, seu bebê de, apenas, 04 meses de vida.   A falta de condições financeiras foi o motivo alegado para tamanha barbaridade.

Outro fato estarrecedor vem do Litoral aonde, um Juiz - possivelmente embriagado pois não se permitiu fazer o texte do bafômetro - pegou um barco e, em alta velocidade colidiu com uma dessas lanchas que ficam na beira mar para conduzir grupos para aventuras naquelas bananas boat.   Uma menina foi atingida e, senão perder a perna, ficará com sequela a vida inteira: uma perna ficará menor que a outra.

Outro fato, ainda, ocorreu na Vila Mariana (bairro de Classe Média Alta da nossa cidade), na última sexta-feira (04/03), por volta das 05:00h: um jovem foi morto, à queima roupa, ao tentar, aparentemente, resistir a um assalto. 

Todas estas notícias nos revelam que a Vida Humana tem valido muito pouco e, o ser humano tem se tornado, cada vez mais, uma ameaça para o seu semelhante.   Diante disso nos perguntamos: "aonde vamos parar?" ou, "como podemos fazer para reverter tal situação?" ou, ainda, "o que está faltando na vida das pessoas?" e, assim por diante.

Penso, que estamos vivendo uma "espécie" de crise de valores.   As Instituições que respaldam a vida em sociedade parecem não estar conseguindo dar respostas favoráveis a tamanhas atrocidades.   A Família, a Escola, o Estado, as Igrejas parecem perdidos não sabendo o que fazer.   É hora de cada um (a) de nós chamar para si a responsabilidade e, começar a fazer a sua parte para reverter este quadro que nos assombra a todos (as).   Cada grupo humano organizado, cada organismo da sociedade precisam buscar caminhos novos para situações, também, novas.

Para nós, os crentes, é hora de mostrar a verdade de nossa fé, saindo de nossa zona de conforto e, assumindo o "novo" que salta aos nossos olhos.   Não dá para continuarmos assistindo, passivamente, à destruição da vida sem fazer nada para barrar essas atrocidades.

Aproveitemos este tempo de graça que o Senhor nos oferece e, peçamos a Sua preciosa ajuda nesta empreitada que se nos apresenta.

Que Deus nos abençoe a todos (as)!

P.S.:  Este texto foi somente um desabafo que senti necessidade de fazer!

quarta-feira, 9 de março de 2011

"Aprendendo com o Carnaval"

Desde de criança, como um bom carioca, sempre nutri pela festa do carnaval, uma enorme admiração.   Ainda me lembro de minha infância e juventude marcadas pela "folia saudável" com parentes e amigos, o que me permitiu olhar e perceber tal festa como um momento de fraternidade, de encontro, de alegria, de partilha.   Nunca me deixei levar pela visão pessimista que, no período desta festa, uns e outros, fazem questão de reforçar com atitudes contrárias às experiências que me marcaram profundamente.

Nestes últimos anos, não tenho tido tempo de participar, mais diretamente, desta festa.   Porém, a distância dos espaços aonde a "folia saudável" acontece, não me tirou o gosto e o prazer que a mesma continua me proporcionando.   O fato de não participar como um "bom folião" (como fazia em tempos passados), me deu a oportunidade de experimentar uma nova realidade: de participante ativo na folia, me transformei num observador do espetáculo que as Escolas de Samba (de São Paulo e, sobretudo, do Rio de Janeiro) proporcionam.    Observar tal espetáculo, com um olhar cristificado, de fé, me oferece a oportunidade de fazer reflexões a respeito de mim mesmo, da minha fé, da minha vida em comunidade, entre outros.   Quero, agora, partilhar com vocês, algumas dessas reflexões!

Uma primeira situação que me chama sempre a atenção é o fato deste espetáculo da Escola de Samba se tornar realidade, a cada ano, graças à organização de comunidades pobres, simples que, para muita gente de fora, não teria a menor condição de fazer "nada" de bom.   As Escolas de Samba são uma realidade surgida e mantida nas e pelas Comunidades - na sua maioria, pobres, da periferia - das duas maiores cidades do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.   Além de se preparem para o Carnaval, essas agremiações auxiliam com trabalhos sociais voltados para a própria comunidade.   Isso é super interessante para nós que participamos das Comunidades Eclesiais e, muitas vezes, não confiamos na capacidade que o povo simples tem - se lhe der oportunidade - de fazer uma história diferente daquela a que foi relegado.   Tudo é questão de oportunidade, de incentivo, de acreditar.

Outro ponto que me chama a atenção (como um bom apreciador da História da Humanidade) é a capacidade que os carnavalescos possuem de tornar visível e compreensível a história de fatos, coisas, pessoas... nas alas, alegorias, fantasias ... que formam a Escola, a Agremiação.   A riqueza de detalhes me deixa abismado e, a cada ano que passa, tudo vai ficando cada vez melhor (pois, num deltalhe, perde-se ou ganha-se o carnaval).   Neste ano, por exemplo, a Escola de Samba Vai-Vai em São Paulo venceu por míseros 0.25 centésimos da Acadêmicos do Tucuruvi e, a Beija-Flor de Nilópolis (diga-se de passagem, a minha preferida - apesar de não ficar arrasado quando ela perde pois não sou fanático) venceu por 1.4 da Unidos da Tijuca (que era a detentora do título do ano passado).   A apuração revela que a preocupação com os detalhes faz toda a diferença entre a Escola Vencedora e as demais que não levaram o título.   Isso me leva a refletir sobre como, muitas vezes, não conseguimos vencer na vida por não darmos atenção aos detalhes que, no final, são os que fazem toda a diferença entre perder ou ganhar.   Aliás, tem um ditado popular que diz: "O diabo mora nos detalhes!"   Se nós não começarmos a pensar nos detalhes em tudo que fizermos, poderemos nos perder nas mãos do Inimigo e Adversário de Deus.  Pense nisso...

Neste ano, vimos passar pelas Passarelas do Samba (São Paulo e Rio de Janeiro) muitos enredos: Teatro Municipal de Manaus, a Cerveja, a Cidade de Florianópolis, o Cinema no Rio, o Mar, o Cabelo, a Morte apresentada no Cinema, as Histórias Infatis da Escritora Maria Clara Machado, o Centenário de Braguinha, entre outros.   Todos muito bem apresentados por suas respectivas Agremiações.   Porém, me chamou a atenção a "coincidência" apresentada pelas duas Escolas que venceram: ambas optaram por levar para a Avenida não as coisas, situações, cidades, fatos ou qualquer coisa do tipo mas,  cantaram e nos apresentaram a Vida Concreta de duas grandes personalidades do nosso tempo e do nosso país: A Vai-Vai venceu apostando na história de superação do Maestro João Carlos Martins e, a Beija-Flor de Nilópolis, na história do considerado "rei" da música brasileira Roberto Carlos.

A reflexão que fiz com estes resultados foi como que a Vida Concreta das Pessoas, quando bem apresentada, sempre vence todo o resto que se apresenta, por melhor que possa parecer.   "Quando as coisas vencem é sinal que as Pessoas estão sendo deixadas de lado", pensei!    A Vida, quando valorizada e apresentada no seu lado belo (lado este ofertado a nós por Deus), é capaz de vencer sempre porque nos identificamos e, por conta disso, nos emocionamos e, não tem como não dar nota 10 e, vencer!

Essas duas Escolas apostaram no melhor e, por isso, venceram!   Não mediram esforços e, por isso, venceram!   Nos emocionaram e, por isso, venceram!   Apostaram na beleza da Vida Concreta de Pessoas e, por isso, venceram!   Talvez, esteja aqui, a receita para quem quer, como a Vai-Vai e a Beija-Flor de Nilópolis, vencer o Adversário:  apostar na Vida, apostar na Pessoa!   Experimente e, veja se o resultado vem ou não! 

Obrigado pela atenção e, que Deus nos abençoe hoje e sempre!

     

terça-feira, 8 de março de 2011

I Domingo da Quaresma - 13 de Março de 2011

Amados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Iniciamos, com toda a igreja, os domingos que compõem este novo tempo litúrgico: a Quaresma!   Neste tempo, seremos conduzidos pelo Espírito ao deserto e,  neste local de solidão e privação de nossas falsas seguranças, ouviremos, atentamente, a Palavra que o nosso Deus quer nos falar.

Neste primeiro domingo, a Palavra nos apresenta, de um lado, a Proposta de Vida e Salvação que o nosso Deus nos apresenta e, de outro, a Resposta do Ser Humano a esta Proposta Divina.

Com a leitura do Livro do Gênesis, entramos em contato com um Deus que, acima de tudo, por Amor e para o Amor, foi capaz de criar o homem e a mulher, lhes colocando num lugar (Jardim do Édem), aonde os mesmos pudessem ter todas as suas necessidades satisfeitas.   Para manter essa Vida Plena, o homem e a mulher deveriam, em todas as circunstâncias, reconhecer a Soberania e o Poder próprios de Deus: decidir sobre o bem e o mal!

Tudo teria sido excelente se a "Serpente" (o mais astuto de todos os animais) não entrasse em cena, para lançar o seu "veneno" sobre o Ser Humano (que se mostrou "matuto").   Com uma conversa, aparentenmente inocente, a Serpente vai se aproximando do Ser Humano e, se mostrando "descohnecedora" das ordens divinas, vai enredando-o em sua proposta: desobedecer a Javé que o criara, demonstrando que ele (ser humano) poderia viver e seguir sem a "intervenção" divina em sua vida.   Em outras palavras, para a Serpente (personificação do Adversário divino), importante é enredar o ser humano em sua "conversa mole", levando-o para longe de Deus e, automaticamente, para perto dela mesma (a Serpente).   A Serpente acaba conseguindo o sucesso em seu projeto pois, se utiliza de um expediente, muitas vezes, infalível:   apresenta ao ser humano a "possibilidade", falsa é claro, de vir a ser como o próprio Deus, isto é, o ser humano poderá se tornar profundamente conhecedor do bem e do mal e, assim sendo, não dependeria mais Deus.

Essa proposta da Serpente agradou ao ser humano que, criado para amar e servir a Deus, foi capaz de desobedecê-Lo pensando poder ocupar o lugar do Criador.   Com essa desobediência (pecado original ou das origens), o ser humano perdeu a graça divina e, após o pecado, percebeu que havia perdido a sua pureza original.

Aqui, algumas perguntas cruciais se nos apresentam:  "Após o Pecado das Origens, para o Ser Humano, estará tudo perdido?"   "Javé Deus que criou o Ser Humano por Amor e para o Amor teria, por conta do Pecado Original, perdido a sua capacidade de Amar?"   "Como ficará o Ser Humano daqui para frente?"

As respostas a estas e outras perguntas que, porventura, possam surgir, estão no Evangelho da Santa Missa de hoje:  Jesus!   Jesus nos é apresentado como Aquele que veio para nos libertar das garras da Serpente (Adversário Divino), nos oferecendo o caminho a seguir.   

De acordo com o Evangelho, o caminho para vencer o mal, a serpente, o pecado e, assim, podermos voltar ao Paraíso Perdido na primeira leitura, é fazer o contrário daquilo que fizeram os nossos primeiros pais: dar ouvidos à Palavra de Deus (coisa que Adão e Eva não fizeram ao dar ouvidos à Serpente).   Não é possível seguir a Deus escutando a voz do seu Adversário (a Serpente, o diabo...) e, vice-versa.

Após receber o Batismo no Jordão, por João Batista, Jesus é conduzido pelo Espírito (é bom frisar a Ação do Espírito nesta passagem) ao Deserto com um único objetivo: ser tentado pelo diabo.   O diabo (= Serpente da primeira leitura) é astuto e, esperando o momento propício, entra em ação, pensando ter o mesmo resultado obtido com Adão e Eva.   Aparece, na hora da necessidade, oferecendo solução, simples e rápida, para os problemas que surgem (a fome).   Com a Palavra Divina na "ponta da língua", Jesus vence a proposta diabólica (não só de pão vive o homem...).   Não se dando por vencido, o diabo tenta mais uma vez levar Jesus à descofiança do Amor e da Proteção Divinos (lança-Te daqui para baixo...)  e, também, mais uma vez, Jesus o vence demonstrando um enorme conhecimento e confiança na Palavra de Deus (não tentarás o Senhor...).   Por fim, o diabo oferece a Jesus a possibilidade de Lhe entregar o mundo com tudo o que este possui desde que o adores, isto é, o reconehça como seu senhor.   Porém, Jesus se utilizando da Palavra de Deus, desarma o tentador (só se deve adorar ao Verdadeiro Deus e Senhor de nossas vidas...).

Como podemos perceber, a Palavra de hoje nos paresenta as duas possibilidades que temos nesta vida: Deus ou o diabo com tudo aquilo que Um e outro podem nos oferecer.   O diabo nos leva ao pecado e, este, nos afasta de Deus e da sua proposta.   Já Deus, tem pra nós o que tinha desde o início: a Vida e o Paraíso.   A escolha é de cada um (a).

A Quaresma é um tempo oportuno para fazermos uma reflexão séria a respeito de nossas escolhas.   Iniciamos a nossa caminhada pelo Deserto e, aqui, Deus quer nos falar ao Coração, nos revelando o seu imenso e infinito Amor por todos (as) nós.   Conhecer a sua Palavra, escutando-A com atenção, será a nossa real possibilidade de não nos deixarmos enredar pelas artimanhas do diabo!

OREMOS:

Ó Deus Pai, todo poderoso, Criador do Céu e da Terra e de tudo que neles há, Te louvamos, bendizemos e agradecemos por nos ter criado por Amor e para o Amor.   Obrigado por demonstrar por todos (as) e cada um (a) o seu Infinito Amor.   Te pedimos, neste primeiro domingo da quaresma, que o Teu Espírito nos acompanhe pelo Deserto da Vida, capacitando-nos para vencer o diabo que nos ronda a cada dia.   Isto Vos pedimos pelos merecimentos de nosso Senhor Jesus Cristo, na Unidade do Espírito Santo!   Amém!   
      

sexta-feira, 4 de março de 2011

Mulher: A Força da Vida escondida nos Fatos Cotidianos

No próximo dia 08/03, celebraremos o Dia Internacional da Mulher e, nesta minha nova fase, gostaria de deixar uma mensagem para todas elas, independentemente de raça, religião, profissão, posição social ou, qualquer outra situação que possa distinguir os seres humanos uns dos outros.

Fazendo uma análise, mesmo que superficial da minha vida, posso constatar que a mesma esteve e, continua até o dia de hoje, marcada pela presença de muitas mulheres que, em sua maioria, demonstaram uma força sem igual para lidar com os acontecimentos da vida (acontecimentos bons e, de maneira particular, acontecimentos maus).   Essa convivência me permitiu, em grande parte, me tornar o que sou.

Primeiramente, no meu núcleo familiar, a minha mãe e a minha irmã me marcaram (e me marcam até hoje) com a garra, a força, o poder de decisão ... além (sobretudo em minha mãe) da capacidade de servir, compreender e, assumir o sofrimento para si mesma para não permitir que o outro sofra.  

Mais tarde, quando ingressei no seminário e acabei me tornando Padre, em todas as Comunidades por onde passei, tive a graça de conviver com mulheres portadoras de uma força que, em muitos casos, humanamente falando, não tinha explicação.

Como explicar a força de mulheres capazes de enfrentar situações, as mais diversas e, acabar se saindo bem em todas elas?   Mulheres mães, mulheres chefes de famílias, exercendo profissões (desde auxiliar de serviços gerais até altos escalões no mundo dos negócios), donas de casa, agentes de pastoral ... sem perder a docilidade típica do chamado "sexo frágil".

É para essas mulheres e todas elas (sem exceção) que quero deixar o meus sinceros parabéns, neste e em todos os dias do ano.   Desejo que os sonhos mais íntimos de cada uma de vocês se realizem plenamente e, que o mundo se torne cada vez mais humano pela presença doce e suave de todas vocês.

Todas e cada uma de vocês tem (pela própria essência) a grande missão de tornar este nosso mundo mais belo, mais humano e, sobretudo, mais capacitado para o Amor.

Que nós (os homens), nos espelhando e nos unindo a vocês, consigamos tornar este sonho uma realidade!

A todas vocês, os meus parabéns e, sobretudo os meus agradecimentos pelo aprendizado que a convivência com cada uma me proporcionou!

Feliz Dia Internacional da Mulher!   


quarta-feira, 2 de março de 2011

"Tempo da Quaresma: Tempo de Graça e de Reconciliação"

Queridos Irmãos e Irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Iniciaremos, no próximo dia 09/03 (quarta-feira de cinzas) o Tempo da Quaresma e, gostaria de conversar com vocês sobre as riquezas espirituais que este Tempo pode nos proporcionar e, também, sobre as formas de viver a espiritualidade deste período do Ano Litúrgico.

Em primeiro lugar, é importante entendermos que o Tempo da Quaresma faz parte de um Ciclo maior dentro do Calendário Litúrgico, que é o Ciclo da Páscoa.   Este Tempo está à serviço do Tempo Pascal que o sucederá.   Daí, penso ser importante, para entendermos a espiritualidade quaresmal, nos perguntar sobre o significado da Páscoa.

A grosso modo, pelo menos por enquanto, é importante recordar que na Páscoa nós celebramos a Vitória da Vida sobre a Morte.   Na Páscoa, somos convidados a experimentar o poder da Vida Nova que a Ressurreição de Jesus nos oferece.   É a serviço desta Grande Verdade de nossa Fé (Páscoa=Vida Nova) que o Tempo da Quaresma se coloca.   É para nos proporcionar uma melhor participação no Tempo da Páscoa que a Igreja, sabiamente, estabeleceu o Tempo Quaresmal.

Quaresma é um termo que recorda o número 40 e, este número, por sua vez, tem grande significado no mundo bíblico: recordamos, por exemplo, os 40 dias do dilúvio, os 40 anos que durou a travessia do deserto rumo à Terra Prometida, os 40 dias que o Profeta Elias teve que enfrentar deserto adentro, fugindo da temível rainha Jezabel (esposa do rei Acab) que buscava matá-lo e, por fim, os 40 dias passados no deserto por Jesus, logo após ser batizado por João Batista no Jordão.   Em comum, todos estes eventos bíblicos, possuem o fato de ter no número 40 o tempo favorável para que as pessoas pudessem, por meio de provações, experimentar uma Nova Condição de Vida:  o povo sai de uma situação de morte e, após 40 dias ou anos, experimenta a vida.

Assim, podemos perceber que os 40 dias da Quaresma mais que um tempo cronológico, é um Tempo Teológico, tempo aonde Deus quer se dar ao seu povo, fazendo acontecer a Vida, grande Dom do seu infinito Amor por nós.   Nesses 40 dias que nos separam da Páscoa (Festa da Vida), somos convidados a extirpar do nosso meio e de nós mesmos tudo aquilo que está impedindo a Vida de acontecer e, biblicamente falando, o que impede a Vida de acontecer em plenitude, é o nosso Pecado.   Daí, a marca característica da Quaresma:  Tempo de Conversão!

Mas, o que é Conversão?   Muitos pensam que Conversão seja, apenas e tão somente, uma mudança de vida ou, quem sabe, algum acerto pequeno em algum setor da vida que esteja necessitando.   Porém, em sentido pleno, não podemos concordar com esta forma de pensar.   Conversão é, na verdade, a capacidade que o ser humano possui de voltar ao "ponto zero" do caminho quando se percebe que, por qualquer motivo, se pegou o caminho errado.   Não faz uma conversão plena quem não não consegue chegar a este "ponto zero", ao início.   Assim, dentro da espiritualidade quaresmal, a Conversão é o ato concreto, a decisão acertada, que brota do nosso coração assim que percebemos ter tomado o caminho errado na vida, de voltar a este "ponto zero" da nossa existência, e tal "ponto zero", chamamos, Deus.   Voltar-se pra Deus e, permitir que Ele nos indique o caminho a seguir, é a grande ação que devemos realizar neste Tempo.

Não é sem sentido que iniciamos este Tempo de Conversão e de Graça com a Celebração das Cinzas.   Tal Celebração tem um sentido duplo, ou melhor, as cinzas tem um sentido duplo.   Em primeiro lugar, receber as cinzas nos recorda o que somos de fato: somos pó e, inevitavelmente, ao pó vamos voltar e, em segundo lugar, como consequência do primeiro, podemos afirmar: se somos pó e, inevitavelmente, vamos voltar ao pó, é importante, diria mesmo, prudente que consigamos reduzir a pó, ou seja, a nada, tudo aquilo que nos faz pensar que somos mais do que somos de fato, isto é, pó.  

Para que isso ocorra, a Quaresma nos oferece um tripé seguro para nos apoiarmos: a Oração, o Jejum e a Esmola, entendidos aqui, no seu sentido bíblico, mais específico:   A Oração como oportunidade de escuta da voz de Deus que fala ao nosso coração e, o Jejum e a Esmola como abertura da nossa vida para os irmãos e irmãs que nada ou quase nada possuem para viver como filhos e filhas de Deus.   Abrir-se a Deus e aos outros que nos cercam é o caminho seguro para atingirmos o grande objetivo que a Quaresma nos propõe.   Na Liturgia Diária e, de modo particular, na Dominical iremos aprender, passo a passo, como poderemos concretizar a espiritualidade que este Tempo Quaresmal tem para todos nós!

Boa Quaresma pra todos (as)!

OREMOS:

Ó Deus, Pai de Amor e de Infinita Misericórdia, nós Te agradecemos pela oportunidade de vivermos este Tempo Quaresmal como um Tempo Forte de Graça que se derrama sobre nós todos.   Te pedimos que o Teu Amor nos conduza ao Deserto aonde poderemos ouvir, com maior intensidade, a Tua Voz que quer nos falar ao Coração.  Dá-nos a Graça de Te Amar e Servir em nossos irmãos de caminhada. Assim seja!

IX Domingo do Tempo Comum - 06 de Março de 2011

Amados Irmãos e Irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Com alegria, nos reunimos com a Igreja, para celebrar o IX Domingo do Tempo Comum e, continuaremos a nossa reflexão tendo, como pano de fundo, as palavras pronunciadas por Jesus no Grande Sermão da Montanha de São Mateus (Mt 5-7).

Nos últimos domingos, a leitura do Evangelho da Santa Missa tem nos proporcionado a oportunidade de aprofundar partes deste grande discurso feito por Jesus e, fomos aprendendo, passo a passo  que, existe entre o Deus que Jesus Cristo está nos apresentando e, as Estruturas do Mundo em que vivemos (com seus ídolos fabricados para sua auto-satisfação), uma oposição.   É preciso saber que, entre o Deus de Jesus Cristo e o Mundo, não existem diferenças puras e simples mas, sim, oposição: o que um quer, o outro não aceita; as ordens de um são contrárias às ordens do outro; suas propostas são, diametralemnte, opostas e contrárias.   Assim, desde o IV Domingo do Tempo Comum, fomos conduzidos para esta compreensão.

Começamos com a exposição de Jesus a respeito das pessoas que, aos olhos de Deus, são felizes (=bem-aventuradas), descobrindo que todas as categorias utilizadas por Jesus nos coloca em xeque frente ao Mundo (pobres, injustiçados, misericordiosos, mansos, perseguidos, caluniados, puros de coração...).  

Depois, Jesus começou a pedir de nós (seus seguidores) que nos tornemos sal da terra e luz do mundo, marcando a nossa diferença e o nosso espaço de crentes e, revelando com a nossa vida, o Deus que Ele (Jesus) está nos apresentando.   Deixar a Luz de Deus brilhar em nós, de modo que o Mundo veja as nossas boas obras e creia também no Pai do Céu e, contagiar o Mundo com o Gosto e a Claridade que procedem de Dele, serão partes integrantes da nossa Missão.

Caminhando mais um pouco, acompanhamos Jesus na série de antíteses do Sermão da Montanha (VI  E  VII  Domingos do Tempo Comum), aonde o objetivo foi nos fazer perceber que, para sermos Filhos e Filhas de Deus é preciso ser e fazer um pouco mais do que aquilo que é consenso, aceitável ou imposto pelo mundo como normas de boa conduta ou de prática de justiça.   Nós, os crentes, temos que estar à frente das leis que regem o Mundo.   Daí, o "ouvistes o que foi dito aos antigos ... " (não matar, não adulterar, não se divorciar, não jurar, dente por dente ... olho por olho, ame o amigo mas odeie o inimigo) em oposição ao "Eu, porém, Vos digo..." (não chame o irmão de "tolo", de "patife", não desejes outra mulher, não se divorcie, não jere de modo algum, não resista ao mal e ame o seu inimigo).   É preciso, para ser de Deus, ir além da letra da Lei e, entender, o Espírito, o que está por trás, o sentido que Deus tinha ao dar tal Lei.

Quando optamos por Deus e seguimos os seus preceitos, temos a certeza de sua presença em nossas vidas, ajundando-nos a ir além daquilo que, humanamente, podemos fazer (VIII Domingo Comum).   Não devemos nos inquietar e nos preocupar com nada pois Deus cuida e vela por cada um de nós.   A opção por Ele, exige a renúncia de todos os demais "deuses" (= ídolos) que se apresentam a nós cada dia, tentando nos seduzir.

Continuando nesta linha de reflexão, chegamos, hoje (IX Domingo do Tempo Comum) ao fim do Sermão da Montanha que nos acompanhou nestes domingos (desde o IV).   

Aqui, o Senhor nos revela uma grande verdade do Cristianismo: Somos uma Religião Prática e, não, Teórica!   Para nós Cristãos, a Teoria só tem um valor: Iluminar a nossa Prática!    Ter ouvido o Sermão da Montanha mas não lutar por viver a sua mensagem no concreto de nossas vidas, terá sido uma enorme "perda de tempo" pois, o Senhor nos revela nesta parte final de seu discurso que não será isso que nos salvará.   É preciso, agora, transformar a Palavra escutada em Palavra vivida na nossa realidade, no nosso cotidiano.   Repetir o que se escutou, pura e simplesmente, não adianta.   Importante é que estejamos dispostos "a por em prática tudo que escutamos".   

Para Jesus, o que salva não é a palavra repetida (pois palavras soltas, o vento leva).   Para ser um fiel, é preciso "fazer o que a Palavra diz".   Quando fazemos o que ouvimos da boca do Senhor, estamos contruindo a casa de nossas vidas sobre a Rocha Inabalável que é Ele mesmo e, podemos, como vimos semana passada, contar com todo o seu apoio e proteção.   Ignorar o que Ele diz é se comportar como um "tolo" que trabalha em vão pois, constrói a casa de sua vida sobre o vazio, sobre a ilusão ... que não lhe darão sustentação na hora em que mais precisar.   Poderemos falar bonito (e, quem sabe, até convencer multidões no nome Dele), será tudo em vão pois não servirá para alcançarmos a nossa salvação final.   Seguir o Senhor, pondo em prática o que Dele escutamos nos dá a garantia de não sucumbirmos diante das adversidades da vida.   Ele é o nosso apoio, o nosso alicerce, a nossa força, a nossa rocha ... sustendando-nos na hora do perigo. 

É, exatamente, na hora do perigo e das dificuldades que a Força de Deus se mostra presente na vida do fiel, na vida do crente verdadeiro.   A princípio, tanto o crente como o não crente possuem vidas semelhantes, parecidas pois a parte da casa que salta aos olhos de todos é, de fato, semelhante.   A grande diferença entre as casas, nem sempre, é visível pois está escondida, debaixo da terra: é o seu alicerce!   Este alicerce mostra a sua força ou a sua fraqueza nas horas complicadas e difíceis (ventos, enchentes, tempestades).   A casa com alicerce seguro, sobre a rocha, não cai, resiste às adversidades se mantendo em pé, já a sem alicerce, diz Jesus, é devastada e a sua ruína é completa.

É por isso, que na primeira leitura de hoje, Moisés orienta o povo para trazer sempre presente as Palavras da Lei (no coração e na alma), penduradas nas mãos (para guiar as ações da vida cotidiana) e amarradas na testa (para orientar os pensamentos).  

Diante de nós, a vida se apresenta com sua vairedade de possibilidades e caminhos.   Somos livres para escolher o que melhor nos parecer.   Porém, feita nossa escolha, teremos que ter maturidade o suficiente para arcarmos com as consequências.   Bênção e Maldição são consequências da nossa escolha!   Pense nisso!

OREMOS:

Deus Amado, Deus Querido!   Neste dia queremos Vos louvar, Vos bendizer e Vos agradecer por terdes nos criado livres e, também, por nos apresentar, com Sua Palavra, o que de fato, esperais de nós.   Vos louvamos por Vos colocardes como nossa Rocha Firme, como Fonte de Bênçãos para nossas vidas e, Vos suplicamos que o Vosso Santo Espírito venha sobre todos nós, nos auxiliando na prática de tudo que Vossa Palavra nos falou.   Pedimos tudo isso a Vós, ó Pai, pelos merecimentos de Vosso Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, que Convosco vive e reina, na Unidade do Espírito Santo!   Amém!

Textos para aprofundamento: Dt 11, 18.26-28.32; Sl 30 e Mt 7, 21-27