quarta-feira, 16 de março de 2011

II Domingo da Quaresma - 20 de Março de 2011

Amados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!
Mais uma vez, nos encontramos aqui, para refletirmos a Palavra que Deus nos apresenta neste segundo domingo da quaresma.  

Retomando a nossa caminhada desde a quarta-feira de cinzas (quando demos início a este Tempo Litúrgico), temos:   o convite que o Senhor nos fez a "rasgar o nosso coração e não as nossas vestes", aproveitando este tempo como sendo "tempo de graça e de reconciliação".   Para tanto, o Evangelho da quarta-feira de cinzas nos apresentava o tripé sobre o qual deveríamos construir esse nosso caminho de conversão, a saber: a oração, o jejum e a esmola (cada um desses elementos, entendidos dentro da espiritualidade bíblica: abertura para Deus (oração) e, abertura para o próximo (esmola e jejeum)).  

No primeiro domingo, vimos que, em nossa caminhada temos duas possibilidades de nos relacionarmos com Deus: a primeira nos apontou o fechamento do ser humano à Voz de Javé, o que o levou a ceder à tentação do diabo (desobediência original = "comer o fruto da árvore do centro do Jardim, árvore da ciência do conhecimento do bem e do mal) e, a segunda, aonde pudemos ver Jesus numa atitude oposta à de Adão e Eva: respaldado pela Palavra ("está escrito..."), consegue vencer as tentações apresentadas pelo mesmo diabo.   Entendemos, assim, que a Palavra de Deus é a chave que pode nos levar ao pecado (quando não damos ouvidos a Ela = Palavra = Adão e Eva) ou, que nos liberta da tentação (quando damos ouvidos a Ela e a pomos em prática = Jesus no Evangelho).

Feita essa pequena revisão de nossa caminhada até aqui, podemos avançar em nossa reflexão.

Depois do pecado das origens (refletido no primeiro domingo), a Palavra de Deus narra uma sucessão de fracassos produzidos pela humanidade por conta do aumento da prática do pecado (adesão ao Diabo).   Assim, temos o assassinato de Abel por seu irmão Caim, o Dilúvio e a Torre de Babel.   Esses são episódios que demonstram o poder devastador do pecado na vida da Humanidade.   Daí, nos perguntamos:   "Diante destes episódios, teria Deus se esquecido e, por conseguinte, abandonado a Obra de Suas Mãos para sempre?"   O episódio da primeira leitura de hoje (cf. Gn 12, 1-4a) vem nos mostrar que não.   Neste texto, vemos Javé tomando a iniciativa, mais uma vez, de se aproximar do Homem: o escolhido, agora, é Abrão!   A este, Deus se apresenta e lhe faz um convite, uma proposta: "Sai da tua terra... e vai para a terra que Eu te vou mostrar."   Percebemos, neste trecho, que a iniciativa do encontro é sempre de Deus.   É Deus quem corre atrás, tomando a inciativa, propondo, mas, em contrapartida, exigindo adesão plena e total (experiência de Fé).    Diante da proposta podemos nos posicionar a favor ou contra, aceitar ou rejeitar.   No entanto, é preciso estar atento à promessa que Javé faz: descendência e bênção (além, mais tarde, da posse da terra).   Essas eram, talvez, as grandes necessidades de Abrão, seus grandes desejos.   Javé se aproxima do Homem se mostrando como O único capaz de satisfazer suas reais necessidades.   Não existe outro que possa fazer isso pois somente Javé (que nos criou = domingo passado) sabe do que precisamos, de fato, para viver e, quais são os nossos mais profundos anseios.   Diante do convite, da proposta, vemos Abrão responder prontamente, sem hesitação: "E Abrão partiu como o Senhor lhe havia dito!"   Esta atitude de Abrão se tornou um fato tão importante e expressivo na História da Salvação, que o mesmo se tornou o Ato de Fé por excelência e, Abrão se tornou o Pai dos Crentes, o Pai da Fé.   A Fé, quando é madura e verdadeira, nos oferece as mesmas disposições de nosso Pai Abrão: diante da proposta de Javé que, diaga-se de passagem, nem sempre compreendemos, nos lançamos sem reservas por entender que Ele (Javé) sabe o que é melhor e, só pode nos oferecer o melhor.   Do Homem, Javé espera uma resposta consciente, sincera e generosa ao seu apelo.

O caminho trilhado por Abrão não foi fácil, assim como não é fácil o caminho de todo (a) aquele (a) que se dispõe a seguir Deus.   O fato de vivermos neste mundo (contrário aos valores do Reino) nos deixa, em muitos momentos, em enormes encruzilhadas que exigem de nós escolhas radicais: ou Deus, ou o Mundo.   Não nos é dado a possibilidade de ficar dando "jeitinhos" para estarmos bem com ambos.

Com Jesus e seus discípulos essa verdade de ter que fazer uma opção, também esteve presente e, também, se mostrou complicado fazê-la.   Após a exigência, feita por Jesus aos seus discípulos, de arriscar tudo por  Amor a Ele, estes ficam meio apreensivos e pensativos (cf. Mt 16, 24-28).   Percebendo tal apreensão, Jesus decide revelar, na Transfiguração, quem Ele era.

Penso, que num primeiro momento, é importante atentarmos para o próprio termo "Transfiguração".   Transfigurar é, em última instância, mudar de figura, apresentar-se de outra forma, mudado, novo.   Até aquele momento, acredito que os discípulos seguiam Jesus mas não sabiam, direito, quem Ele era.   Jesus falava bem, realizava milagres é verdade mas, até aquele momento, não tinha manifestado a sua "Real Identidade", isto é, Deus que se fez Homem para que o Homem voltasse a gozar da sua Imagem e Semelhança com a Divindade (fato este perdido por conta do pecado das origens visto semana passada).   Diante das exigência de seguimento do Mestre, nos perguntamos como os discípulos: "Será que vale à pena?"   A Transfiguração é uma resposta de Jesus de modo a produzir nos discípulos a coragem de seguí-Lo.  

Seis dias depois das exigências feitas, "o Senhor toma consigo Pedro, Tiago e João e, subindo num Monte, se transfigura diante deles".   Subir ao Monte é sintomático pois o Monte, na Biblía, significa o espaço da Divindade, espaço aonde a Divindade se revela.   Jesus, no alto do Monte se revela como Aquele que veio para levar a bom termo tudo que antes Dele havia sido escrito (Lei = Moisés) e falado (Profecia = Elias).   Pedro se maravilha diante daquela visão beatífica e, como sempre faz, movido pelo impulso, quer ficar naquele local de glória: "Senhor, é bom ficarmos aqui.   Se queres..."   Sem que terminasse a sua fala, uma voz se fez ouvir do meio da nuvem que os encobria a todos: "Este é o meu Filho amado... Escutai-O!"   O Pai nos apresenta Jesus como o seu Filho e, como tal, é preciso escutar o que Ele diz.   Ouvir a voz do Filho amado é fazer o caminho de volta ao Paraíso que, os nossos primeiros pais, por não terem dado ouvidos à Voz do Pai (domingo passado), perderam.   Jesus é a resposta definitiva do Pai aos anseios da humanidade que deseja regressar ao Paraíso.   Aderir a Jesus e à Sua Proposta é a única forma de reavermos o Paraíso que o nosso pecado fez-nos perder.

Acreditar como Abrão e como os discípulos não é tarefa simples, nem fácil.   Exige de nós renúncias, lutas constantes, entregas sem reservas de nossas vidas ao Pai, aceitar sofrer por Amor as contradições de uma vida voltada para os valores eternos porém, ainda presa a este mundo provisório.   Deixar-se transfigurar (mudar de figura, deixar transparecer em cada um de nós a Imagem e Semelhança de Deus) no meio do mundo mergulhado na imagem e semlhança do diabo, é a grande proposta que a Palavra de Deus nos faz hoje.

OREMOS:

Deus Pai de Amor, nós Te louvamos, bendizemos e agradecemos por Tua Palavra que nos revelou o Seu desejo de renovar conosco a Aliança que o nosso pecado fez perecer.   Dá-nos a graça da transfiguração e, refaz em todos nós, a Tua Imagem e Semelhança, tornando-nos capazes de revelar, com nossas vidas, a Tua Verdade!   Isto Vos pedimos, pelos merecimentos de nosso Senhor Jesus Cristo, que Convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo!   Amém!

Textos para aprofundamento: Gn 12, 1-4a; 2 Tm 1, 8b-10 e Mt 17, 1-9

             

5 comentários:

  1. Como é bom caminhar por esse mundo tendo a CERTEZA da presença desse Deus que nos ama. E, de um mundo NOVO, que começamos a construir aqui... Seu texto hoje me trás esse conforto: ELE ESTÁ NO MEIO MEIO NÓS!!!!
    Obrigada, Padre Ezaques, por ser esse APONTADOR Dele.
    =)

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  2. Que bom que vc gostou do texto que acabei de postar. Espero que ele possa ajudar vcs na caminhada quaresmal. Obrigado pelo comentário!

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  3. Como o senhor Padre Ezaques,escreveu no texto....que os discípulos,seguiam JESUS,sem o conhece-lo.Acho que muitas vezes estamos na igreja direto e não conhecemos e nem acreditamos realmente no amor que DEUS nos oferece.Só depois de passarmos por grandes tribulações e nós entregarmos na mão de DEUS(Sendo essa entrega vinda do coração)É que percebemos o quanto ele nos AMA e nunca nos ABANDONA...

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  4. Mesmo diante do que está escrito na bíblia parece-me que poucos,foram os que entenderam uo entendem alguma coisa.

    Acreditar uo não? acreditar és há questão,enquanto isso os exemplos estão aí,enchentes,terremotos,clima alterado em diversos países e etc...

    Perdão senhor diante dos males cometido por
    nós ainda há tempo de entendermos. Amém

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  5. Estes três discipulos são escolhidos paracontemplar a gloria de Jesus na sua transfiguração,porque deveriam mais tarde,assistir tambem as humilhaçoes da sua agonia.
    Jesus se transfigurou para fortalecer seus discipulos para as severas provações que passariam.
    Jesus deu um exemplo do que seria seu corpo glorioso depois da ressurreição e do que serão nossos corpos depois da ressurreição universal.

    Padre...Meditar a palavra de Deus faz bem para a Alma.Obrigado

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