quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Quinta-feira Santa: A Páscoa da Ceia!" - 05 de Abril de 2012

Amados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Com grande alegria, iniciamos hoje, com toda a Igreja, as Celebrações do Tríduo da Páscoa e, acredito ser importante esclarecer uma questão muito importante:

O Tríduo Pascal é uma única Celebração que é desenvolvida em três momentos (dias) distintos.   Não são três Celebrações mas uma mesma e única Celebração que começamos na Quinta-feira, se prolonga na Sexta-feira da Paixão e se conclui no Sábado Santo ou de Aleluia.   Em cada um desses momentos somos convidados à compreensão da Eucaristia em um aspecto específico, a saber: Quinta-feira: buscamos compreender a Eucaristia no seu aspecto de Banquete aonde a Comida e a Bebida são o Corpo e Sangue de Jesus, o Cristo (com as consequências práticas desta compreensão); Sexta-feira: buscamos compreender a Eucaristia em seu aspecto de Sacrifício aonde a Morte de Jesus, o Cristo, na Cruz é a nossa base compreensiva (com as consequências práticas desta compreensão) e Sábado Santo  ou de Aleluia: Buscamos compreender a Eucaristia em seu aspecto de Glorificação, Ressurreição e Vitória aonde a Vitória de Jesus, o Cristo sobre a Morte é percebida como a nossa Vitória também (com as consequências práticas desta compreensão).   

Esta compreensão nos faz pensar que não é possível estar em uma Celebração e não estar em outra pois, é preciso participar dos três momentos para compreendermos a Eucaristia em seu tríplice aspecto e, assim sendo, podermos retirar de nossa participação na mesma, os frutos de salvação pra nós e pra aqueles que nos cercam.

Tendo feito este esclarecimento, vamos à compreensão do primeiro dos três aspectos, a saber: Eucaristia como Ceia, como Banquete aonde a Comida e a Bebida são o Corpo e Sangue do próprio Jesus, o Cristo e suas consequências práticas para a Vida da Comunidade de Fé!

A Palavra de Deus que nos é proposta nesta Celebração resgata a história da Páscoa (festa pagã, judaica) até chegar à compreensão Cristã da mesma.   

Na Primeira Leitura (Ex 12, 1-8.11-14) nos revela, mais do que o ritual de Celebração da Páscoa, o seu sentido para os hebreus.   A Páscoa era uma festa dos pastores nômades que, por ocasião do início da Primavera (hemisfério norte), quando a vida retornava em sua exuberância oferecia sacrifícios aos deuses e, espalhando sangue de animais sacrificados em torno do acampamento, esperava-se a proteção dos deuses para a nova temporada.   Esperava-se com tal gesto ritual que a nova etapa fosse de abundâncias de pastagens e de crias entre os rebanhos.   Com a Libertação do Egito, esta deixa de ser uma Festa de Passagem das Pastagens Invernais para as Pastagens Primaveris mas, sacrifício comemorativo (memorial) da Passagem da Escravidão no Egito à Liberdade em Canaã!   Este trecho do Livro do Êxodo (elaborado o Tempo do Exílio na Babilônia, mais do que ensinar o modo de celebrar esta Nova Páscoa, que levar a Comunidade do Exílio a compreender o SENTIDO DESTA CELEBRAÇÃO.   Assim, cada gesto, cada elemento deve ser lido na perspectiva de compreender o que Deus queria dizer no passado e o que Ele (Deus) quer no presente no povo.   Vejamos o sentido do texto e seus elementos:

Primeiro Ponto:  A Páscoa dá início a um estilo novo de vida, é o começo de tudo e a vida terá o seu começo aqui (a vida em Deus);
Segundo Ponto: A Páscoa é a Festa da Partilha e, assim sendo, quando a família é pequena para o cordeiro apresentado, deve convidar o vizinho para partilhar o alimento;
Terceiro Ponto: A Páscoa deve conduzir ao Oferecimento do Melhor e, por isso, o cordeiro sacrificado deve ser sem mancha ou defeito;
Quarto Ponto: O Sangue do Cordeiro é sinal de Preservação de Vida para uns e a sua ausência é sinal de morte para outros;
Quinto Ponto: Os Pães Ázimos, Rins Cingidos, Sandálias ao Pés e Cajado na Mão representam a pressa em assumir a vontade de Deus, demonstrando que não se deve perder tempo;
Sexto Ponto: As Ervas Amagas servem para recordar as dificuldades da vida no Egito e, por obra e graça de Deus, cessaram.

Celebrar a Páscoa para o Judeu era ocasião de recordar todos esses pontos e, assim sendo, não permitir que a Fé nesse Deus esmorecesse.   "É uma Festa memorável em honra do Senhor e que deve ser celebrada de geração em geração, como Instituição Perpétua!"

O Cristianismo, avançando na compreensão deste memorial foi capaz de compreender que, em Jesus, o Cristo, tal Festa Pascal atingiu a plenitude de revelação de Deus a nós.   Os pontos citados acima ganham novo sentido, mais pleno e completo.   Com Jesus, compreendemos que a Grande Libertação chegou até nós: a Libertação do Pecado e, para tanto, o Sacrifício não é mais de um cordeiro mas do próprio Deus, revelado em Jesus, o Cristo.   Esta ideia esta expressa na Segunda Leitura (I Cor 11, 23-26) aonde o Apóstolo  Paulo orienta a Comunidade sobre o modo de Celebrar a Eucaristia (Memorial da Páscoa Cristã) e as disposições que devem reger os membros das Comunidades que a celebram.   Em primeiro lugar é extremamente importante compreender que a Eucaristia é um Banquete e, neste Banquete, o próprio Jesus se dá a nós em alimento e bebida salvadores: "Isto é meu Corpo; isto é meu Sangue!"   Participar deste Banquete, comer e beber o Corpo e Sangue de Jesus deve produzir nos convivas as mesmas disposições, sentimentos que marcaram a vida Daquele que a nós se dá.   Perder tal compreensão e, automaticamente não querer que a Vida de Jesus, o Cristo passe a ser a nossa vida, significará "participar do Banquete da nossa própria condenação".    Em Corinto, a Celebração Eucarística estava se tornando um motivo de escândalo por não gerar nos fieis os sentimentos de Cristo Jesus; em Corinto, celebrava-se a Eucaristia mas não se comprometia com a luta pela promoção da vida de todos; em Corinto, a Celebração da Eucaristia convivia, - muito bem, diga-se de passagem! - com os desmandos de uma sociedade estabelecida sob a égide das classes sociais diversificadas: ricos e pobres!   Não se pode perder de vista que a Eucaristia nos compromete com a Vida de Jesus e, este se doou por AMOR e, automaticamente, aqueles (as) que participam do Seu Banquete devem querer viver como Ele viveu.

Esta ideia é explorada no Evangelho de hoje (Jo 13, 1-15).   Diferentemente dos outros três evangelistas (sinóticos), João não trata da Instituição da Eucaristia no relato da Última Ceia mas coloca no lugar desta o episódio do Lava-Pés com toda a sua riqueza de significado que não está fora de sintonia com o ideal do Banquete.   O gesto de Jesus (inesperado e novo) nos oferece a real compreensão do que é a Ceia Eucarística e o que a mesma pede de nós: o Maior serve ao menor, o Mestre ensina com a Prática de sua vida, o Senhor se comporta como escravo.   Estas são lições de extrema importância para todos (as) que se reúnem para celebrar a Eucaristia.   Banquetear-se com o Corpo e Sangue de Cristo, na Eucaristia implica numa renúncia a nós mesmos para que a Vida de Jesus seja, a partir de então, a nossa própria vida. Jesus faz por nós para que nós façamos pelos outros e, portanto, as lições desta Ceia Eucarística devem nos acompanhar em todos os momentos de nossas vidas.   

Instituição da Eucaristia, Espírito de Serviço (Lava-pés) e Mandamento Novo do Amor sem medida não são situações estanques e separadas mas, ao contrário, estão intimamente ligadas.   Viver uma e deixar as outras para trás nos faz participar de uma Festa, de um Banquete que, ao contrário de Salvar, nos condenará!   Pensemos nisso e participemos com mais seriedade de nossas Eucaristias!

Boa Celebração da Ceia do Senhor para todos (as)!

Nenhum comentário:

Postar um comentário