sexta-feira, 31 de agosto de 2012

"XXII Domingo do Tempo Comum: A Religião dos Ritos ou a Religião do Coração?" - 02 de Setembro de 2012

Queridos irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Com alegria, vivenciamos com a Igreja no mundo o XXII  Domingo do Tempo Comum e, com a Igreja no Brasil, iniciamos o Mês da Bíblia.   Unimos, nesse mês o prazer pela pela escuta e estudo da Palavra de Deus ao desejo de "sermos santos e santas como nosso Deus é Santo!"   Ouviremos e meditaremos a Palavra, nesse período, com maior vontade de atingir esse ideal de vida que Deus tem para cada um (a) de nós.

Após 05 semanas refletindo sobre a Fé e suas consequências práticas em nossas vidas, seguimos adiante e, hoje, a Palavra nos coloca frente a uma questão embaraçosa e complexa em nossa caminhada: a forma como vivenciamos a nossa relação com Deus!   Nos questionamos, hoje, sobre a nossa prática religiosa: é verdadeira ou aparente; é externa ou brota do coração; é só ritualismo ou acompanha, de fato, a nossa vida, o nosso cotidiano?   Essas são questões muito sérias e que a Liturgia desse domingo irá nos auxiliar nas respostas.   Vejamos:

A Primeira Leitura (Dt 4, 1-2.6-8) é um texto produzido na época do Exílio na Babilônia (586 - 536 a.C.) e, portanto, deve ser compreendido à luz dessa realidade trágica para o povo.   Nessa época, a grande questão que se fazia era: Como viver a FIDELIDADE a Javé em terra estrangeira uma vez que na Babilônia não havia TEMPLO, SACERDÓCIO e, portanto, CULTO?   Como manter a FIDELIDADE sem as CONDIÇÕES EXTERNAS PARA A EXISTÊNCIA DA MESMA?  É nesse sentido e, buscando dar uma resposta a tal questão que um autor anônimo do período do Exílio escreve o que escutamos, hoje, como Primeira Leitura da Celebração.   Para o povo exilado, sem as condições externas não havia possibilidade de fidelidade. Porém, o autor descobre uma maneira: ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a CUMPRIR, para que, FAZENDO-O, vivais. [...] Nada acrescenteis, nada tireis, à PALAVRA que vos digo, mas GUARDAI OS MANDAMENTOS DO SENHOR VOSSO DEUS que vos prescrevo.   Vós Os GUARDAREIS, pois, e OS POREIS EM PRÁTICA, porque NELES está a vossa SABEDORIA e INTELIGÊNCIA.   Observamos, nesse trecho, que o autor sagrado descobre uma maneira de o ser humano conseguir, em qualquer circunstância que se encontre, viver a fidelidade ao projeto de Deus.   A Lei, guardada no coração e posta em prática, é o CAMINHO SEGURO DA FIDELIDADE DESEJADA!   Essa vivência da Lei do Senhor tornará o povo um SINAL do PRÓPRIO DEUS para os demais povos que dirão: Qual a nação tem os deuses tão próximos aos seus como o nosso Deus está próximo de nós, sempre que O invocamos?   A Justiça, proveniente da Lei do Senhor, quando vivida na prática revela a fidelidade e, dessa forma, torna o crente um sinal de Deus para os que estiverem ao seu redor.  

Mas, nos perguntamos: Que Leis e Decretos são esses que tornam o ser humano fiel e sinal de Deus para os outros?  Jesus dirá: o AMOR a DEUS sobre todas as coisas e, para provar o nosso AMOR A DEUS, o AMOR AO PRÓXIMO?    A vida ligada a Deus e à serviço do próximo é o caminho seguro de fidelidade à vontade de Deus para cada um de nós!   A vivência do Amor faz do ser humano um SINAL AUTÊNTICO DE DEUS PARA TODOS (AS)!

O problema foi que, com o passar dos tempos, os homens buscaram "traduzir" o que significa tal AMOR e, pior ainda, como o ser humano deveria viver para provar que tinha tal AMOR e, portanto, como poderia provar a sua fidelidade extrema às Leis e Decretos que o Deuteronômio pediu na Primeira Leitura de hoje.

Nesse sentido, a Religião foi se transformando numa espécie de "corpo legal e doutrinário" que passou a impor normas, regras que, na medida em que o tempo foi passando foi afastando, cada vez mais, do ideal.   À Lei e Decretos DIVINOS foram sendo acrescentados o que "os antigos" compreendiam dos mesmos.   Mais ainda: passados os anos, as pessoas davam mais importância às explicações dos antigos (que, diga-se de passagem, já haviam se transformado em leis) do que àquilo que era, de fato, a Lei e o Decreto do Senhor!

Aqui, compreendemos o motivo principal das brigas que os Evangelhos narram entre Jesus e os Representantes da Religião em sua época: de um lado Aquele que veio para dar pleno cumprimento à Lei e, de outro, os que defendiam a prática escrupulosa da chamada "tradição dos antigos" que haviam substituído a Verdadeira Lei do AMOR!   No Evangelho de hoje (Mc 7, 1-8.14-15.21-23) temos um exemplo desses.

Fariseus e Doutores da Lei (representantes da Religião fiel às tradições do antigos) foram, de Jerusalém - sede do Poder, inclusive, Religioso - para ter com Jesus e, observaram que os discípulos de Jesus comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado.   Ora, isso era um ABSURDO, um ESCÂNDALO RELIGIOSO pois era preciso ter atenção para não contaminar, com as mãos sujas da poeira das ruas, do contato com os outros, o pão que seria ingerido para matar a fome.   Tal gesto - comer sem lavar as mãos - poderia torná-los impuros, também pois, na concepção farisaica e dos doutores da lei, a impureza era algo que entrava DE FORA PARA DENTRO no ser humano.   Dessa forma, é preciso ter atenção a tudo que você toca, a todos com os quais você convive pois, a todo momento, você está EXPOSTO AO PECADO QUE TORNARÁ IMPURO: tomar banho quando chega das praças, lavar bem as vasilhas de cobre, entre outros requisitos impede o ser humano de ficar IMPURO e, portanto, de ficar IMPOSSIBILITA, DO DE ESTAR DIANTE DE DEUS como se deve.   Essa percepção dos Fariseus e Doutores da Lei, os leva a questionar Jesus: Por que os teus discípulos NÃO SEGUEM A TRADIÇÃO DOS ANTIGOS, MAS COMEM O PÃO SEM LAVAR AS MÃOS?   Tal questão é um estopim que desencadeia uma daquelas discussões agradabilíssimas que os Evangelhos nos narram.   Jesus, citando o Profeta Isaías, declara a HIPOCRISIA dos seus interlocutores: muito preocupados com a aparência e, despreocupados com a essência; muito preocupados com os LÁBIOS mas, despreocupados com relação ao CORAÇÃO!   Os representantes religiosos representavam uma religião que havia se tornado OCA, VAZIA, SEM ECO NA VIDA PRÁTICA DAS PESSOAS e, portanto, desvencilhada da VERDADEIRA VONTADE DE DEUS.   Esses representavam uma religião na qual o mais importante é PARECER SER mais do que SER DE VERDADE!   É a religião da aparência, da mentira, da representação, da teatralidade.   Ora, dirá Jesus: tal religião prega e ensina PRECEITOS HUMANOS e, leva os homens ao ABANDONO DO MANDAMENTO DE DEUS (AMOR) para seguir a tradição dos próprios homens!

Diante disso, Jesus explica o sentido da verdadeira religião ensinando o que, de fato, torna o homem impuro: O QUE TORNA UM HOMEM IMPURO NÃO É O QUE ENTRA NELE VINDO DE FORA, MAS O QUE SAI DO SEU INTERIOR!   Que VERDADE MARAVILHOSA!   Que VERDADE LIBERTADORA!   QUE VERDADE DIVINA!   A Religião Verdadeira, aquela que de fato está ocupada em viver a FIDELIDADE À VONTADE DIVINA é aquela que ensina, não a tradição dos antigos, a tradição humana, mas a de Deus mesmo e, portanto tem que ser uma Religião ocupada com o INTERIOR, com a VERDADE, com a ESSÊNCIA HUMANA.   O Coração Humano é que deve ser trabalhado pela Religião Verdadeira pois ele é a sede de todas as opções: boas ou más!   O que vem de dentro do homem para fora é que pode revelar, de fato, sua pureza ou impureza!   É do interior do Coração que podem sair, se não estiver voltado para a Verdade, as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo.   E, conclui Jesus: ESSAS COISAS MÁS SAEM DE DENTRO E, SÃO ELA QUE TORNAM IMPURO O HOMEM!

Por fim, a Segunda Leitura (Tg 1, 17-18.21b-22.27) nos ensina que, para vivermos os valores dessa Verdadeira Religião defendida por Jesus é necessário abrir-se a dom precioso que nos é dado do Alto, do Pai das Luzes.   É esse Pai, que não conhece sombra de variação, que nos faz ser adeptos da VERDADE.   A Palavra que nos é dada deve ser por nós PRATICADA se queremos, de fato, viver a Religião que nos liga à VERDADE DIVINA: o AMOR!   Pois, conclui, o Apóstolo: a verdadeira religião é assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo!

Que lições a Celebração de hoje pode nos ensinar se estivermos, de fato, abertos para acolher a Verdade de Deus em nós...

Peçamos, amados irmãos e irmãs, a Deus que nos ajude a compreender o sentido verdadeiro da Religião que SALVA!   Assim seja!

Boa Celebração para todos (as)!

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