Queridos irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!
Iniciamos, com a Igreja, um novo Tempo Litúrgico: a Quaresma! Este é um tempo que só se compreende na sua estreita relação com o Tempo Litúrgico seguinte, isto é, a Páscoa. A Páscoa é, ao lado do Natal, a Festa mais importante de nosso Calendário Litúrgico pois nela celebramos o fundamento da nossa fé: Jesus Ressuscitado! Este evento é algo tão importante para nossa fé que o Apóstolo Paulo chega a afirmar que se Cristo não houvesse ressuscitado, a nossa fé seria vã e nós seríamos as mais tolas das criaturas. Toda a vida de Jesus se confirma como vida do Filho de Deus que se fez homem, exatamente, com a Sua Ressurreição pois, nenhum dos fatos vivenciados por Ele antes da Ressurreição seria capaz de torná-Lo Deus: nascimento, discursos bonitos, milagres ... tudo perderia o sentido caso não existisse a Ressurreição pois, somente com a mesma, Ele provou que é Deus: venceu a pior de nossas inimigas, ou seja, a Morte!
Ora, uma Solenidade de extrema importância como é a Páscoa não poderia, de jeito nenhum, ser vivenciada de qualquer jeito, de qualquer forma. Para uma grande Solenidade é importante que haja um tempo de preparação, aonde a Comunidade possa ser conduzida, passo a passo, para a compreensão do Mistério que a envolve. É para isso que a Igreja, sabiamente, estabeleceu o Tempo Litúrgico da Quaresma: 40 dias aonde, com silêncio, jejuns, intensificação da vida de oração, esmolas, escuta da Palavra, participação mais efetiva e intensa na Liturgia da Igreja, cada um (a) de nós se prepara para as Celebrações que marcarão o próximo tempo: a Páscoa!
Mas, de onde vem a ideia do 40 dias? Por que esse tempo? Aqui, é importante que entendamos esse tempo não no sentido cronológico (segundo, minuto, hora, dia, semana, mês) mas, no seu sentido teológico: é o Kairós (tempo de Salvação, de Deus, de Graça) e, aqui, temos na Palavra de Deus alguns exemplos:
a) o dilúvio: após o pecado de nossos primeiros pais e a sua expulsão do Paraíso, o pecado só fez crescer entre os homens e mulheres até que, chegando aos céus, Deus se arrependeu de ter feito o ser humano. O Dilúvio é a forma de colocar um fim à vida de pecado e, afogando em suas águas o mal, faz surgir um homem e uma mulher novos, capazes de reconstruir a vida segundo a vontade de Deus. Ora, para que houvesse o fim do mal e o reinício do bem foram precisos 40 dias e 40 noites (tempo de Salvação e Graça, tempo de Deus);
b) o deserto: tendo o povo sido libertado da escravidão egípcia, se viu forçado a peregrinar 40 anos pelo deserto até chegar à Terra Prometida, Terra onde corre leite e mel. 40 anos foi um tempo aonde uma nova sociedade foi forjada, capaz de não repetir os mesmos erros cometidos na Egito e no próprio deserto. 40 anos foi um tempo de aprendizado do que era a vontade de Deus para que vivendo-a, o povo tivesse mais vida, tivesse vida plena;
c) a fuga do profeta Elias: tendo enfrentado os falsos profetas e a fúria da rainha Jezabel, Elias foge para o deserto e pede a morte. Deus o alimenta com um alimento misterioso e, o faz caminhar 40 dias pelo deserto até chegar ao Monte de Deus, o Horeb. Ali, Elias fará uma nova experiência com Deus e, fortalecido, dará continuidade à Missão de combater os erros em Israel;
d) a pregação do profeta Jonas aos habitantes de Nínive: Deus envia o profeta a esta cidade para pregar aos seus habitantes a vontade de Deus que afirmava que, sem em 40 dias, o povo não se convertesse, tudo seria destruído. Para a surpresa de Jonas, tão logo ele começou a sua pregação - não sem antes opor resistência - o povo todo se converteu e fez penitência, do menor ao maior, desde homens até animais;
e) Jesus no deserto após o Batismo: por fim, temos os 40 dias de Jesus no deserto, aonde fora tentado por Satanás e o venceu com a força do Espírito de Deus que agia nele. A partir daí, vencido o tentador, Jesus inicia a sua Vida Pública, revelando aos homens e mulheres quem de fato é: Filho de Deus, Deus que se fez homem para salvar os homens e mulheres.
Bom, só com esses exemplos podemos perceber o número 40 é simbólico e, para nós quer significar um Tempo suficientemente capaz para se provocar uma transformação na vida das pessoas. Esse é um Tempo de Graça, aonde Deus nos oferece a oportunidade de abandonar os nossos vícios e aderirmos a Ele e a Salvação que nos oferece. Para tanto, é importante que estejamos dispostos a lançar mão dos meios preparados pela Igreja para que atinjamos o nosso objetivo. É preciso deixar Deus falar aos nossos corações, é preciso dar-Lhe atenção. Silêncio, Escuta da Palavra e Oração são fortes instrumentos para se alcançar tal objetivo. É importante olhar o nosso irmão e sermos para ele o que ele estiver precisando e, aqui, a esmola - entendida em seu sentido bíblico, como partilha e não como sobra - será fundamental. Fazer um belo exame de consciência á Luz da Palavra de Deus desse Tempo Litúrgico, reconhecer os pecados que nos afastam da presença de Deus e confessá-los numa Confissão bem feita, será outro caminho seguro de ver nascer em nós o homem novo.
Termino essa reflexão pedindo que as nossas Comunidades estejam preparada para produzir em seus fieis essa transformação, produto da Escuta da Palavra que, por sua vez, é produto do Silêncio que as nossas Liturgias deverão promover intensamente nesse Tempo Quaresmal.
Que Deus nos ajude a viver o Tempo da Quaresma como um Tempo de Graça, um Tempo de Conversão sincera. Assim seja!
Boas Celebrações para todos (as)!
Pe. Ezaques Tavares
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