sábado, 9 de março de 2013

"IV Domingo da Quaresma: Experimentar o Amor Infinito e Incondicional de Deus promove a Resposta de Conversão Sincera no Homem/ Mulher!" - 10 de Março de 2013

Amados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Celebramos, hoje, o IV  Domingo da Quaresma e, neste Domingo podemos contemplar e experimentar - pelo menos como uma espécie de "aperitivo" - as alegrias que, em plenitude, experimentaremos com as Celebrações da Páscoa.   Hoje, somos convidados a nos envolvermos com aquela verdade maior e principal que poderá nos proporcionar a verdadeira adesão ao Projeto de Vida que o Senhor nos apresenta: o nosso Deus nos AMA com um AMOR INFINITO E INCONDICIONAL e, nos aguarda, como PAI MISERICORDIOSO, para nos ACOLHER EM SEUS BRAÇOS!

A Palavra de Deus da Liturgia de hoje quer nos apresentar o quanto Deus nos aguarda, o quanto Ele nos espera para fazer uma festa e nos recolocar na posição de filhos e filhas novamente.

A Primeira Leitura (Js 5, 9a.10-12) nos apresenta o cumprimento de uma parte da promessa e o começo de uma nova etapa na vida do Povo de Deus.   A chegada à Terra Prometida é a manifestação de que o Senhor tirou de cima do Povo o opróbrio do Egito!   A chegada se dá da mesma forma da saída: celebrando a Páscoa = Passagem da Terra da Escravidão para a Terra da Liberdade ou da Morte para a Vida.   Celebrar a Páscoa é sinal de reconhecimento da mão estendida e braço forte com os quais Javé os libertou da escravidão egípcia.   No dia seguinte à Páscoa, a terra ofereceu seus frutos e, a partir daí, o maná parou de cair pois não havia mais necessidade daquele alimento misterioso que serviu no período do deserto.   Sem qualquer trabalho da parte do povo, a terra oferece seus dons e, aqui, entendemos, mais uma vez, a Leitura do I  Domingo da Quaresma que nos apresentou a Profissão de Fé do Povo Hebreu (vide comentário à Primeira Leitura do I Domingo da Quaresma, texto do Deuteronômio).

Na verdade, essa Leitura nos prepara para a grande revelação divina que o Evangelho de hoje nos apresenta e que nas duas últimas duas semanas nós viemos refletindo: Javé é o Deus que propõe a Aliança, busca o Ser Humano para fazer o Pacto com ele e, se compromete a ser FIEL mesmo que esse Ser Humano não o seja e não se comprometa com tal Aliança!   Deus não é Deus Fiel por conta do que possamos fazer mas permanece FIEL para que sejamos alguma coisa melhor!   Ele (Deus) não aguarda sermos bons, santos, justos para nos aceitar como seus filhos e filhas mas, nos aceita como somos para que sejamos, a partir do Encontro Pessoal com Ele, bons, santos e justos.

O Texto Evangélico de hoje, é uma prova do que acabamos de dizer acima.   São Lucas, escritor que destaca, entre outras coisas, a MISERICÓRDIA com uma das principais características de Deus, tem no capítulo 15 do seu Evangelho, o coração deste Livro Sagrado.   Em Lc 15 temos as três parábolas da Misericórdia: da ovelha perdida, da dracma perdida e a do Filho Pródigo ou do Pai Misericordioso (talvez o nome mais adequado seja este último).   Na Liturgia de hoje temos, somente a terceira: do Filho Pródigo ou Pai Misericordioso (Lc 15, 1-3.11-32).   No texto em questão, alguns pontos nos chamam a atenção.   Vejamos:

a) Introdução Geral às três Parábolas (15, 1-3): é importante perceber que nesta introdução o Senhor nos mostra para quem Ele conta as Parábolas, isto é, a quem Ele deseja atingir, a quem quer falar de modo especial e, ao contrário do que imaginamos, as Parábolas são contadas para chamar a atenção dos Fariseus e Mestres da Lei que criticavam a postura de Jesus ao se misturar com pecadores e publicanos.   Portanto, o texto não existe para chamar a atenção dos pecadores, para que se convertam mas, ao contrário, existe para chamar a atenção daqueles que se pensam justos, bons e santos para que se convertam da ideia errada que possuem de si mesmos.   A introdução nos revela que Jesus não está se dirigindo aos pecadores com os quais está convivendo mas, Ele se dirige àqueles que, por se pensarem melhores que os pecadores, possui um pecado maior que aqueles que eles condenam.

A Parábola do Filho Pródigo ou do Pai Misericordioso quer tocar no coração desses pseudos bons, justos e santos que, a todo tempo e lugar, contaminam a vida da Igreja; pessoas que se pretendem melhores que as outras por cumprirem, minunciosamente, a letra da Lei mas, em contrapartida, deixam lado o Espírito da mesma que, no fundo, é o que conta; pessoas que pensam ser mais que as outras e, por conta disso, se acham mais merecedoras das benesses que o Senhor tem para oferecer.   No fundo, essas pessoas não aderiram ao Caminho de Conversão pois, ainda, não fizeram um Encontro Pessoal com o Senhor mas, continuam amarradas à ideia mesquinha e ordinária que, ao longo de suas pretensas vidas religiosas, foram formando de Deus: um "deus" feito à imagem e semelhança delas mesmas e, portanto, com as mesmas mesquinharias e incapacidades para Amar de forma gratuita e generosa.

b) O Homem com seu filho mais novo: a história de Jesus revela um homem que tem dois filhos.   Na verdade, mais que dois filhos, esse homem - que representa o próprio Deus - tem nos filhos dois tipos de comportamentos: um comportamento representado no filho mais novo e outro no filho mais velho.   Nessa parte da história, vejamos o comportamento do filho mais novo: este é impulsivo, tem a figura do pai como alguém que lhe poda a própria vida, pensa que a casa do pai é ruim pois cerceia a sua liberdade e, pede ao pai um absurdo: "Dá-me a parte da HERANÇA que me cabe!"   Ora, a herança é algo que só é repartida quando o verdadeiro dono dos bens morre.   Na verdade, a herança é algo que recebemos de graça pois não fizemos nenhum esforço para amealhar aqueles bens que, pelo simples fato do seu verdadeiro dono ter morrido, cai em nosso colo 'de bandeja", "gratuitamente".   Mas, o pai - que AMA os filhos - resolve atender ao pedido, sem pé nem cabeça, do filho mais novo e divide a herança em vida com os dois herdeiros.   Quem AMA verdadeiramente, RESPEITA A LIBERDADE DO OUTRO MESMO QUE ISSO SEJA UM ABSURDO!

c) Saída do filho mais novo da casa do pai: de posse da herança que lhe foi dada, o filho mais novo vai para longe da casa do pai pois desejava, ardentemente, viver livremente, sem que houvesse quem lhe dissesse o que fazer, quando fazer e como fazer.   Geralmente, o que não foi batalhado para se ganhar, se perde fácil: Tudo que vem fácil, vai fácil!   É isso que parece ocorrer com o filho mais novo: desconhecendo a dificuldade de se acumular os bens - pois foi herança e, como tal, resultado do esforço, único e exclusivo do pai - gasta tudo, de repente, numa vida desenfreada!

d) Os bens acabam e a vida fica difícil: como diz o ditado - "Miséria pouca é atrase de vida" - após perder os bens, ainda sobreveio uma fome na região aonde o filho mais novo se encontrava e, ele começou a passar necessidade.   Parece que agora o filho mais novo irá compreender como as coisas não são fáceis e, compreender como pai teve que batalhar para acumular os bens que ele esbanjara.   Agora, terá que trabalhar!   A situação está tão complicada que, o único serviço encontrado foi cuidar dos porcos (lembre-se que a parábola esta sendo contada para os fariseus e mestres da lei, judeus piedosíssimos e, para os mesmos, o porco é um dos animais mais impuros que existe e, não se pode manter contato com os mesmos pois a sua impureza passaria para eles mesmos!)   

Ora, aquele filho mais novo, que tinha TUDO DE GRAÇA NA CASA DO PAI, agora se vê numa situação mais do que catastrófica: pois queria matar a própria fome com a lavagem dos porcos mas, nem isso lhe davam.   Isso significa que aquele filho foi reduzido a uma posição inferior ao do animal - o porco, no caso - mais impuro para a cultura judaica.   Isso é demais!!!!

e) Tomada de consciência do filho mais novo: nesse momento, o filho mais novo - agora reduzido a algo pior que porco - cai em si: na casa de meu pai até os empregados têm pão com fartura e eu aqui morrendo de fome!   A lembrança da Vida Boa que, diga-se de passagem, ele havia recusado, renegado e desejado deixar para viver a própria vida, desperta tal filho para aquilo que perdera.   Isso nos faz pensar que não houve um processo de conversão sincera do coração desse filho mas, ao contrário, o que houve foi a percepção de que havia perdido uma "Boa Vida" e, mais ainda, que lhe era oferecida "de graça", "sem trabalho", "sem esforço" única e exclusivamente, por conta do AMOR INCONDICIONAL E INFINITO DO PAI!   O filho mais novo ensaia um retorno e algumas palavra comoventes para tocar o coração do pai pois, quem sabe?, o pai permitiria que ele ficasse em casa como, pelo menos, um empregado!

f) O filho toma a decisão de voltar: com o desejo de tocar o coração do pai de modo que o aceitasse como um dos empregados, o filho inicia o seu caminho de volta.   O que o filho não sabia é que para o pai, o filho jamais deixa de ser filho e, portanto, jamais será tratado como um empregado.   Isso está fora de cogitação!   O pai não ama o filho porque tem um "comportamento" que se espera de filho; o pai não ama o filho porque o filho é bonzinho mas, porque Ele é PAI e, como tal, não pode ter outra relação com o filho que não esta: de Pai!   Os filhos deveriam tomar consciência disso pois, assim, evitariam muitos desgostos e contratempos para eles mesmos!

g) O Encontro com o pai: mesmo que admitíssemos a possibilidade da conversão do filho, o Encontro com o Pai revela que o mesmo (Pai) não está preocupado nas motivações que levaram o seu filho de volta.   A única coisa que importa, para o pai, é que o seu filho voltou são e salvo!   Todo o resto é resto!!!!

O pai o avista vindo ao longe e o reconhece (só um pai preocupado com o filho que partiu e não deu mais notícias, é capaz de reconhecê-lo ao longe - não nos esqueçamos que a vida desenfreada e difícil deve ter produzido marcas terríveis na vida do filho e o deixado desfigurado).   O filho que saiu rico de casa, volta sem nada: vestido de trapos, sem sandálias e sem o anel!   O pai corre ao encontro do filho e, importante ressaltar, ao ser coberto de beijos e ser abraçado pelo pai que teve compaixão, o filho começa a falar o que havia ensaiado para dizer mas, a última frase "trata-me como a um dos teus empregados" o filho não tem tempo de dizer pois é interrompido pela ordens que o pai dá aos verdadeiros empregados: Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho.   E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés.   Trazei um novilho gordo e matai-o.   Vamos fazer um banquete.   Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado!   Que belo texto este: revelação do AMOR INFINITO E INCONDICIONAL DO PAI PARA O QUAL O FILHO NUNCA DEIXA DE SER FILHO!   É essa experiência que provoca a Verdadeira Conversão: o Amor Infinito e Incondicional do Pai que não está preocupado com aquilo que o filho fez mas, ao contrário, deseja que o filho retorne, o quanto antes, para os seus braços!

h) O filho mais velho: para fazer o contraponto com a postura do filho mais novo, a parábola fala de um outro filho, ou de um outro tipo de comportamento do filho: aquele que nunca deixa a casa do pai, mas, em contrapartida, parece não ter compreendido que a casa do pai não é a casa de um patrão - como, aliás, havia pensado o filho mais novo.   Ao voltar do campo, ouvindo barulho de música e dança e, ao descobrir que o motivo de tanta festa era o retorno do seu irmão, o filho mais velho não gosta.   Ao contrário: fica com raiva e não quer entrar!   Se sente injustiçado pois nunca saiu da casa do pai e o pai faz festa para o outro que foi embora e o deixou sozinho!

i) O pai e o filho mais velho: o pai quer que os filhos se amem e se queiram bem mas, nem sempre isso acontece pois os filhos que se consideram bons pensam que merecem mais dos pais do que os outros que não foram tão bons quanto eles.   A concepção desses filhos é que o pai deveria amar na medida do comportamento de cada filho.   O que tais filhos não compreendem é que para o pai não é possível ser de outro jeito, fazer de outra forma que não do jeito de pai e ponto final.   O pai argumenta com o filho mais velho que, em contrapartida, argumenta também e, o texto termina, deixando em aberto a ação do filho mais velho: não se afirma que ele entrou na festa ou que ficou do lado de fora!   Talvez isso seja de propósito para que cada um (a) de nós possamos nos colocar no lugar desse filho mais velho e podermos oferecer a resposta: "Entraríamos ou não?"   ou melhor: "Entramos ou não?"   A certeza é que o pai não irá mudar o seu jeito e suas ações de pai por conta de pirraças de filhos que não compreendem ou não querem compreender que o seu AMOR É INFINITO E INCONDICIONAL!

Por fim, a Segunda Leitura (2 Cor 5, 17-21) vem coroar essa nossa reflexão: Está em Cristo é tornar-se uma criatura nova e, tudo isso é dom de Deus que, em Cristo, nos reconciliou Consigo!   Deus, o Pai, que nos ama com o amor do pai do evangelho de hoje, é capaz de tudo para nos ter do seu lado, para re-estabelecer a harmonia da convivência conosco: em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação!   

Que bela notícia a Palavra de Deus nos oferece nesse IV  Domingo da Quaresma!

Peçamos a Deus que nos ajude a fazer, cada dia mais, a experiência com o Seu Amor Infinito e Incondicional e, desse jeito, possamos aceitar os irmãos que, por qualquer motivo, tenham se afastado da Casa do Pai!

Que Deus nos ajude hoje e sempre!   Assim seja!

Boa celebração para todos (as)!

Pe. Ezaques Tavares



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