quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Intolerância Humana: Um Desafio à nossa Vida de Fé

Queridos (as) leitores (as) quero, neste texto, partilhar com cada um (a) de vocês uma reflexão que venho fazendo, ao longo desta semana.   Tal reflexão se intensificou logo após ter visto, num noticiário esportivo, um fato ocorrido numa partida de volei em Minas Gerais (melhor de três jogos) que irá classificar um dos semifinalistas para a Super Liga 2010/11, entre o Volei Futuro de Araçatuba (SP) e o Cruzeiro (MG).   Neste jogo, o Cruzeiro buscava a vitória para não necessitar ir para o terceira partida e, o Volei Futuro, buscava a vitória para forçar a mesma.   O jogo ocorreu na casa do Cruzeiro e, o ginásio estava lotado com a torcida local que, tentava levar o time pressionando o adversário.

Num determinado momento, percebendo que a vitória ia escapando das mãos, a torcida do Cruzeiro resolveu criar uma situação, no mínimo, sem graça e, no máximo, grosseira demonstrando a incapacidade de tolerância para com o diferente que se apresentava.   Quando o central Michel foi para o saque, a torcida "enfurecida", num coro uníssono e, aos berros, gritava: "Bicha!"   "Bicha1"   "Bicha!"   Interessante notar que nesta torcida enlouquecida estavam crianças, adolescentes, jovens, adultos, senhores... famílias inteiras que, numa espécie de "histeria coletiva", tentava desconcentrar o adversário revelando a orientação sexual do central do Volei Futuro, num tom de sarcasmo e de revelação de que o fato de ter uma orientação sexual diferente da grande maioria heterossexual, fazia do central uma pessoa "menor" e, automaticamente, "sem valor".

Isto gerou um enorme constrangimento e, após o jogo, acabou se tornando manchete de vários programas esportivos na TV e notícia de jornais escritos em todo o país.   Tal situação suscitou o debate a respeito da intolerância sexual no mundo do esporte e, automaticamente, levantou a questão da dificuldade, que vem num crescendo, de aceitar o diferente como parte integrante do todo social.   Este fato revela com o esta situação de intolerância vem crescendo em nosso país. 

Este fato me fez recordar alguns outros ocorridos há pouco tempo atrás, a saber:  aquele caso de uma empregada doméstica da zona oeste do Rio de Janeiro que foi agredida brutalmente por um grupo de jovens de classe média alta, estudantes universitários e bem nascidos.   Ao serem interrogados sobre os motivos que os levaram a tamanha brutalidade, afirmaram: "Achamos que a mulher em questão fosse uma "prostituta".   Outro fato, um pouco mais distante de  nós no tempo, foi o assassinato do índio Galdino em Brasília por, também, um grupo de jovens, filhos de pessoas importantes da capital federal.    Ao serem interrogados sobre os motivos, disseram: "Pensamos que fosse um mendigo!"   Estes fatos revelam a concepção que tais grupos de jovens da classe média alta tem dos outros, dos diferentes: prostitutas e mendigos não contam e por isso podemos espancá-los e/ou matá-los que não fará falta.   Outra situação recente foram os ataques homofóbicos ocorridos na região da Av. Paulista (São Paulo - SP) no final do ano passado (2010).

Todas estas situações e, tantas outras que não chegam até nós porque a mídia não noticia, vem demonstrando que a intolerância em nosso país vem num crescendo assustador, demonstrando as contradições de uma nação que, caminha a passos largos para a consolidação de sua democracia mas, ao mesmo tempo, se vê envolvida em tais situações que demonstram o lado mais antiquado da história: intolerância para com o diferente.   Queremos um país ético mas, ao mesmo tempo, nos comportamos como antiéticos pois defendemos os nossos direitos sem percebermos que, também, temos deveres.   Não compreendemos que a ética me faz perceber os meus direitos mas, também, os direitos do outro.   Eu tenho direito até o ponto em que este não fira o direito do outro.  

O que está em questão não é a concordância ou não do modo como o outro decidiu tocar a sua própria vida.   Importa, aqui, é entender que o outro tem direito de ser o que ele achar que deve ser e ponto.   Eu posso não concordar mas, isso não me dá o direito de buscar exterminá-lo pelo simples fato de ser diferente.   O importante é perceber que o outro tem os mesmos direitos que eu e, os mesmos precisam ser respeitados.   Não posso confundir o ser humano com as sua opções.   Posso não concordar com o estilo de vida do outro mas, o outro deverá ser sempre respeitado como pessoa, como ser humano que é.

A intolerância acaba impedindo a convivência entre as pessoas e, o respeito de uns para com os outros deixa de existir.   Por conta disso, ela (intolerância) é, de fato, um impecilho para a nossa Caminhada de Fé.   Olhando para a prática de Jesus Cristo podemos perceber que uma de suas principais características é a sua capacidade de enxergar o ser humano como aquilo que de fato é: ser humano, imagem e semelhança do Pai.   Por isso, Ele (Jesus) não media esforços pra defender a Vida em qualquer circunstância.   Não tinha medo de conviver, de quebrar barreiras, de transpor obstáculos produzidos pelos costumes e tradições.   Até mesmo o aparato religioso de sua época foi questionado e enfrentado por Ele.    Tudo em nome da defesa da Pessoa!

Penso que todos nós precisamos aprender com o Mestre Jesus e, revendo a nossa postura frente às situações que envolvem as pessoas dos nossos irmãos, mudar a nossa conduta.   A Intolerância nos nossos dias vem lançando sua raízes destruidoras em muitos setores da vida:   não convivemos porque o outro é negro, homossexual, tem outra fé, é socialmente inferior a mim, é estrangeiro e, a lista poderia ir até Deus sabe onde.

Que estas notícias possam nos levar a uma reflexão mais séria sobre o modo como estamos conduzindo as nossas vidas e, para onde estamos encaminhando o nosso mundo!

Obrigado pela atenção e que Deus nos abençoe a todos (as)!

  

12 comentários:

  1. Nunca pensei que leria essas palavras de um padre. Meus parabéns, Ezaques. Você, com esse belo texto, disse tudo o que sempre pensei sobre o verdadeiro amor de Deus. Essa torcida é apenas uma pequena parcela de um contingente muito maior de pessoas que são extremamente intolerantes, preconceituosas e, pq não?, desumanas. Pessoas que condenam o próximo em qualquer circunstância, e que, em nome de Deus e dos bons costumes (???), espalham ódio e ignorância por onde passam... Vai entender!

    ResponderExcluir
  2. Que bom que vc gostou do que escrevi: é, de fato, o que penso. Espero que os textos estejam te ajudando a repensar a sua visão a respeito dos Padres (rsrssrr). Obrigado pelo comentário e que Deus nos abençoe!

    ResponderExcluir
  3. Padre Ezaques! seus textos são barbaros é por isso que eles estão fazendo parte do meu blog a cada texto um aprendizado e assim sendo o mundo caminhará para o amanhã com conscistência e clareza por isso é sempre bom fazermos um momento de reflexão.Amém
    Acesse:REDEDERADIODIFUSAONEWS
    @Wellingttonsilv
    ou www.imprensacomunitaria.com.br

    ResponderExcluir
  4. Tantas vezes a raça humana se porta como a pior das espécies... se esquecendo que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Um Deus que fez loucuras por AMOR, que veio ao mundo pra nos ensinar a ser "gente"... tantas vezes colocamos esses ensinamentos de lado e deixamos o mal criar raizes em nós...
    De fato, como diz o título desse texto,UM DESAFIO A NOSSA VIDA DE FÉ, fazer a minha parte é transformar minha vida num sinal desse Deus que quer todos irmãos, sem se importar com as diferenças. Fazer-se pequeno com o pequeno, excluido com o excluido... tornar-se um com o outro.
    Ontem vi um senhor falando em entrevista na TV (no desastre do RJ): não sei se ajudei mas fiz o que pude(ele colocou as crianças no carro dele e levou ao hospital).
    Pra mim foi, junto com tanto outros que sofriam ali, um rastro de Deus. Se colocar a serviço do outro, fazendo seu melhor.
    Nosso papel, que carregamos o título de cristãos, fazer um com o outro.
    Nosso Mestre sempre foi assim, não é?

    ResponderExcluir
  5. Que bom que vocês gostaram do texto. Acredito que se não tomarmos consciência de nossa missão no mundo, este mundo, de fato, não terá muito jeito. Espero que nossas reflexões estejam auxiliando nesta tomada de consciênica. Que Deus nos abençoe e, mais uma vez: Muito Obrigado pela atenção!

    ResponderExcluir
  6. Para mim cada dia que passa,a intolerância humana parece estar maior...Mesmo hoje em dia com tantas informação as pessoas não se lembram que JESUS,sempre esteve ao lado dos excluidos.Já conheci vários moradores de rua, qdo trabalhei em pinheiro e cada um tinha uma estoria, e um motivo diferente para estar ali...eu só tenho que agradecer essas pessoas...porque foi um deles que ajudou a tentar salvar meu sobrinho de um acidente,já tive amiga que trabalhava com a mãe,só que não saia com ela na hora de almoço porque a mãe estava com roupa de serviço...as pessoas esquece de ver as outras por dentro e só vê por fora.Por isso muitos acabam se enganando por só verem a aparência.Acho muito bom o sr.colocar textos assim para que possamos cada dia mais refletir se realmente agimos como cristãos qdo.encontramos irmão diferentes de nós e a forma que agimos com eles

    ResponderExcluir
  7. Padre, Realmente é revoltante como a intolerancia está presente na nossa sociedade.A simplicidade e capacidade de aceitar o outro como ele é e ama-lo com gratuidade torna-se uma tarefa árdua, pois há uma classificação nítida em amar, aceitar e tolerar apenas o que é útil, o que é socialmente correto ou o que tras algum benefício...agir dessa forma é o mesmo que colocar uma barreira para o amor sendo que pra DEUS o amor é ilimitado e para todos...DEUS NOS PROTEJA E ABENÇÕE para quebrarmos essas barreiras e aprender a amar, só se aprende amando.

    ResponderExcluir
  8. Diante de tantas situações,acontecidas recentemente.
    Entremos em profunda oração.

    Livra-nos de todo mal......

    AMÉM.

    ResponderExcluir
  9. Padre, de tudo isso que estamos vendo e vivendo, eu sinto que o falta para nós é falar
    mais com Deus, como um filho fala com o seu pai. Eu li a pouco tempo num livro um texto que dizia: "O homem perdeu Deus, seu criador e pai, e Deus perdeu o homem, sua imagem, seu filho, seu interlocutor. E desde então Deus procurou o homem, e o homem tem que procurar a Deus". E é cegos pela intolerância, que não percebemos que é nas pessoas, no outro, que encontramos Deus. É tão difícil né. Obrigada por nos ajudar.

    ResponderExcluir
  10. Que bom que vocês estão gostando dos textos. Espero que eles estejam ajudando no nosso crescimento de fé e, sobretudo, no conhecimento da vontade de nosso Deus a nosso respeito. Obrigado pela atenção e que Deus nos abençoe e nos livre, sempre, da intolerância.

    ResponderExcluir
  11. Padre Ezaques, sua benção.
    Aprendemos a cada dia com o senhor.
    Estes textos vem nos fazer refletir e vê como estamos tratando nossos irmãos. Para DEUS todos somos a sua imagem e semelhança, ELE não discriminou ninguém.
    Juntos possamos dizer NÃO a este tipo de comportamento.

    ResponderExcluir