sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"XXIV Domingo do Tempo Comum: O Perdão Sincero e Ilimitado como Condição para a Vida Comunitária!" - 11 de Setembro de 2011

Queridos irmãos e irmãs, paz e bem em cristo Jesus!

Continuamos, hoje, a nossa reflexão iniciada no domingo passado, a saber, a importância da Vida em Comunidade.   Se, na semana passada, o enfoque estava na responsabilidade de todos e de cada um para que a Comunidade se tornasse "Sinal de Deus para o Mundo" - daí, a importância de estarmos atentos à vida que cada um está levando e, na medida em que percebermos algo errado, chamar este irmão e advertí-lo com o objetivo de trazê-lo de volta para o nosso meio -, hoje, a Palavra dá ênfase à necessidade de os membros da Comunidade se perdoarem, mutuamente, no Amor.   Não há Vida comunitária Verdadeira se os membros da mesma, no Amor, não se perdoarem.   Porém, uma questão se coloca para nós: "Quantas vezes devemos perdoar?" ou "Há um limite para a prática do perdão na Comunidade?" ou, ainda: "Não estaríamos fazendo "papel" de bobos, tolos ... perdoando ilimitadamente àqueles que nos ofenderam e ofendem?"   Tentando responder a estas e tantas outras inquietações que temos, a Liturgia da Igreja deste XXIV Domingo Comum nos apresenta os textos da Palavra de Deus.   Vejamos:

Na Primeira Leitura (Eclo 27, 33  - 28, 9) temos um texto que, no conjunto bíblico, apresenta um grande avanço na compreensão deste assunto.   Sabemos que a questão do perdão - assim como tantos outros conceitos na Bíblia - não foi algo que sempre foi percebido pelo Povo de Deus da mesma forma, do mesmo jeito.   Há, no mundo bílbico, um avançar na compreensão dos conceitos: eles vão das formas mais rudes e elementares para as formas mais complexas (na verdade, na medida em que o tempo passa e, a experiência de Deus vai sendo maior no meio do Povo, este, por sua vez, vai captando a "verdadeira vontade Dele = Deus).   Este avanço ocorreu, também, com este conceito de hoje: o Perdão.  

No princípio, temos uma ideia de que ao mal recebido, a vingança poderia e deveria ser em uma proporção inifinitamente maior (Ex.: a história da Vingança de Lamec em Gn 4, 23-24) quando este afirma que "matará quem o arranhou; mata uma criança que lhe pisa o pé e, Caim será vingado sete vezes, Lamec setenta vezes sete!"   Percebemos, aqui, que a vingança prometida é muito superior ao mal, ao dano causado.   Um avanço importante neste modo de pensar, ocorreu com a entrada em vigor da "Lei do Talião" que afirmava:"dente por dente e olho por olho!" (cf. Êx 21, 24) que começa a esboçar que a punição de veria ser feita segundo a "justiça".   Em Lv 19, 18 teremos outro marco: "Não te vingarás e não guardarás raiva contra os filhos do teu povo, mas amarás o próximo como a Ti mesmo!"   É para este último ponto que o autor do Eclesiástico (de onde saiu a Primeira Leitura de hoje) parece querer nos enpurrar.

No início do II Séc. a.C., um autor desconhecido, refletindo sobre a Vida da Comunidade que sofria a perseguição e a dominação grega (selêucida), chega a esta belíssima conclusão: "rancor e raiva são sentimentos terríveis no ser humano; até o pecador tenta dominá-los."   Demonstra que a relação de Deus conosco está, estreitamente ligada à nossa relação com o próximo: perdoar o pecado do próximo é a garantia do perdão de Deus para conosco.   Não há cura nem perdão se nós não amarmos e perdoarmos os nossos semelhantes.   Poderíamos nos perguntar: "Como conseguir esta "proeza"?"   O autor nos dá pistas: "pensar no fim, na destruição e na morte nos fará perseverar nos mandamentos e, assim não haverá lugar, em nós, para o rancor!"   Outra ação importante é: "trazer sempre a Aliança com o Altíssimo" pois esta não nos deixará cair no pecado da "falta de perdão".

Como podemos perceber, por volta do séc. II a.C. a ideia sobre o "perdão" dá um salto qualitativo e, acaba nos preparando para a compreensão do texto evangélico de hoje, a saber: Mt 18, 21-35.   Vejamos:

Seguindo o modo de pensar dos rabinos e entendidos na Lei, Pedro se aproxima de Jesus para lhe apresentar uma questão que, na verdade, todos nós gostaríamos de apresentar: "Quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?"   Na cabeça de Pedro, ele estava sendo super, ultra, mega condescendente pois, à época, os ensimaentos, afirmavam que, no máximo, se perdoaria alguém por 03 ou 04 vezes (dependendo de quem fosse esse alguém: filho, irmão, esposa por exemplo).   Pedro pensa que estaria "arrasando" com um limite tão elástico: o dobro ou mais um que o dobro!   Porém, parece que a resposta de Jesus não confirma tal sentimento de Pedro: "não te digo até sete vezes mas setenta vezes sete!"   Jesus supera todos os conceitos, todas as teorias e informações sobre este tema conhecidos até então.   Para ele (Jesus) o Perdão não é uma prática restrita ao âmbito da quantidade mas, da qualidade e, portanto, deve ser praticado sempre e plenamente.    O Perdão Verdadeiro e Autêntico não se conta mas se oferece, gratuitamente e sempre.   Não há limites para o Perdão pois este é produto do Amor que, em Deus, é infinito e ilimitado.   Para Jesus, os discípulos devem conduzir a própria vida de modo a revelar a Vida do próprio Deus, sobretudo nas relações comunitárias, com o próximo.   Por isso, conta a Parábola do "Servo perdoado de uma dívida impagável mas, que em contrapartida, não perdoou o próximo que lhe devia uma ninharia!"   Tal parábola revela a nossa incoerência quando nos aproximamos de Deus para pedir perdão de nossos pecados (que são tantos e imensos) mas não perdoamos o pequenos erros cometidos contra nós na Comunidade.   A parábola revela que o perdão de Deus está condicionado ao perdão que somos capazes de oferecer àqueles e àquelas que nos cercam em nosso dia a dia.

Viver a Comunidade só será possível quando possuirmos em nós este sentimento de Amor do Pai, revelado a nós por Jesus.   É por isso que na Segunda Leitura (Rm 14, 7-9), o apóstolo Paulo nos apresenta o Senhor Jesus como nosso modelo único:  em qualquer circunstância - quer vivamos, quer morramos - pertencenmos ao Senhor!   Toda a nossa ação, toda a nossa prática devem ter como mola mestra esta ideia central: somos todos de Cristo!

Que Deus, o Pai, em seu Infinito Amor nos conceda a graça de um Amor Verdadeiro, capaz de nos conduzir à prática do Perdão Ilimitado para com nossos irmãos! Amém!

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