segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor: "A Contradição presente em todo Ser Humano!" - 20 de Março de 2016

Queridos irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Após 05 semanas acompanhando o Senhor em sua trajetória de dor e sofrimento, entramos, hoje, com toda a Igreja na Semana Central de nossa Fé e, por conta disso, do Calendário Litúrgico.   Tanto isso é verdade que, somente ela (semana) é designada com o adjetivo de Santa!   Durante o Tempo da Quaresma, a Comunidade foi se preparando para que pudesse chegar nessa última semana mais santificada pois se a Santidade não foi buscada com afinco por cada um de nós, a Semana será como todas as demais (talvez com uma maior ida de todos à Igreja para presenciar as Celebrações bem preparadas e longas que acontecerão nos próximos dias) mas, ela não será SANTA pois o que a torna assim é a Vida Santificada dos fieis.

Abrimos essa Semana Santa com a Celebração do Domingo dos Ramos e da Paixão do Senhor e, o título duplo da mesma já traz em si a questão por ela levantada: a contradição presente em nossas vidas quando percebemos que Jesus não é o "deus" que nós desejávamos que Ele fosse pois Ele não irá fazer o que nós gostaríamos que Ele fizesse.   A Celebração desse Domingo revela, de forma muito explícita, essa faceta de nossa Fé: queremos um "deus" que seja capaz de realizar os nossos desejos, que esteja à serviço de nossas necessidades mas, quando percebemos que Ele não existe para nossa própria satisfação e, portanto, não está, necessariamente, "disposto" a realizar os nossos desejos, com a mesma facilidade com que O acolhemos solenemente em nossas vidas, O expulsamos e O condenamos à morte, e morte de Cruz.   A estruturação da Celebração já revela isso em todos os pormenores!   Vejamos:

Pra começar, a Celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor se desenvolve em dois ambientes bem distintos pois, as duas partes que se sucedem tratam de assuntos bem diversificados: enquanto num primeiro momento, nos reunimos num lugar específico, fora do espaço em que a Celebração se desenvolverá mais adiante.   Nesse primeiro momento, a Comunidade é acolhida e convidada a iniciar a sua Caminhada da Semana Santa e, aqui, temos a Leitura do Evangelho (Lc 19, 28-40) em que nos é apresentado a "Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém".   Aquele Jesus que, após o Batismo deu início à Sua Vida Pública e, nesse tempo (03 anos mais ou menos) foi revelando o rosto e a fisionomia de Deus, foi, pouco a pouco, chamando a atenção do povo (sobretudo, os pobres e excluídos) para si.   Todos imaginavam que ao termo de Sua Viagem para Jerusalém, Ele iria restaurar o Reino de Davi e, como num passe de mágica, transformar a má sorte do povo com uma reviravolta no modelo do poder da época: pobres e excluídos no poder e poderosos seriam rebaixados de vez!   É por isso que, quando é avistado, a multidão dos discípulos explode em alegria e O acolhem como o "Novo Rei que chega" pois os milagres realizados ao longo de Seu Ministério Público havia suscitado tal sentimento na maioria das pessoas.  Estendendo mantos, espalhando galhos de árvores (ramos) pelo caminho e aclamando "Bendito o que vem em Nome do Senhor" e "Hosana ao Filho de Davi", Jesus é recebido com grande louvor e glória na Cidade Santa.  Porém, um detalhe passa meio despercebido pela multidão: o Rei monta um jumentinho, cria de jumenta e não um Cavalo de Raça como os Reis do Mundo e, aqui já está a grande contradição entre Jesus e o Mundo que os discípulos não compreenderam e, talvez, até os nossos dias, ainda não compreendem!

Acabada a leitura desse Evangelho, a Comunidade é convidada a repetir os mesmos gestos da Multidão daquele tempo: com os ramos abençoados e cantando "Hosana ao Filho de Davi" e "Bendito o que vem em Nome do Senhor", iniciam a Procissão dos Ramos em direção ao ambiente, já preparado para a Segunda Parte da Celebração!

Nesse segundo momento, o tom se modifica, as músicas perdem o vigor da Procissão, o clima de dor e tristeza começa a tomar conta dos presentes pois, nesse momento, a Paixão do Senhor nos será apresentada.   Na mesma Celebração, tão vibrante até então, um "espírito de dor e tristeza" nos toma por completo e, daqui em diante seremos conduzidos pelos caminhos da Entrega, da Dor, do Sofrimento, da Morte provocada e pedida pela mesma multidão que O recebera cheia de louvor e alegria e, isso se dá, porque, na medida em que os dias passam, as pessoas vão sendo convencidas de que o Senhor não realizará o que elas desejam, não haverá tomada de poder temporal, não haverá mudança de posições no comando da Cidade e, instigadas pelas Autoridades Religiosas, as mesmas pessoas, pedirão a Morte do Senhor!   A Palavra de Deus dessa segunda parte da Celebração é cercada de dor, entrega, amor, sofrimento e morte!  Vejamos:

A Primeira Leitura (Is 50, 4-7) nos apresenta mais um Canto do servo Sofredor ou Servo de Javé, essa personagem misteriosa que, a partir dos capítulos 40 de Isaías começa a ser descrito como o único capaz de salvar o povo e, isso se dará por conta de sua fidelidade a Vontade do Senhor que o fará confrontar-se, severamente, com o Poder Instituído do Mundo.   Suas estratégias são opostas às utilizadas pelo Poder Mundano: sua língua adestrada (educada pelo Senhor = Javé) o faz capaz de ter palavras de conforto para quem está abatido; como servo, cada manhã ele é despertado para ESCUTAR, com ouvido excitado e atento, os conselhos e as ordens de Seu Senhor.   E, o que ele (Servo) escuta é de fazer tremer de medo o mais valente dos seres humanos: o servo deverá oferecer a face para quem lhe arranca os fios da barba, não deverá desviar o rosto de bofetões e cusparadas e, isso acontece porque o Servo sabe quem está do Seu lado: o Senhor Deus é o Seu AUXILIADOR e, isso, o faz firme e não o deixa desanimar mantendo o ROSTO IMPASSÍVEL COMO PEDRA pois sabe que não sairá humilhado!

Toda essa Leitura do Profeta Isaías, nós a vemos realizada plenamente na Paixão do Senhor Jesus narrada por Lucas (Lc 22, 14 - 23, 56).   O Domingo de Ramos é o único Domingo do Ano em que se proclama a Narrativa da Paixão e Morte de Jesus na Liturgia da Igreja!   Nesse texto longo podemos perceber todos os detalhes descritos pelo Profeta nos Cantos do Servo de Javé ou Servo Sofredor pois Jesus é o cumprimento perfeito das Profecias do passado.   Todo o julgamento iníquo e toda a Sua entrega por Amor são descritos de forma pormenorizadas no texto em questão.   A crueldade do pecado humano conduz à morte e morte de Cruz Aquele que veio para Salvar a Humanidade!

Por fim, a Segunda Leitura (Fl 2, 6-11) é um belíssimo Hino narrado pelo Apóstolo Paulo que canta o processo de despojamento de Deus que por Amor deixa a Sua Vida Divina e, esvaziando-se da mesma, se faz Servo dos servos, se Entrega à Morte de Cruz por Obediência ao Pai para salvar a Humanidade de seus pecados.   É esse Jesus que se Entrega por Amor e Obediência que recebe do Pai um Nome muito acima de todo e qualquer nome e, ao Seu Nome todo joelho se dobra no Céu, na Terra e nos Infernos!

Celebrar o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, abrindo com toda a Igreja as Grandes celebrações da Semana Santa deve nos alertar para a necessidade de tomarmos cuidado para não tentarmos fazer de Deus algo ou alguém que deve estar ao nosso dispor mas, que compreendamos que Ele (o Senhor) é quem pode e deve exigir de cada um de nós que nos coloquemos inteiramente disponíveis ao Cumprimento de Sua Santa Vontade!

Oremos:

Deus eterno e todo poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz.   Concedei-nos aprender os ensinamentos de Sua Paixão e ressuscitar com Ele em Sua Glória!
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo !   Amém!

Boa Celebração para todos!

Pe. Ezaques Tavares

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