sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

IV Domingo da Quaresma: "O AMOR MISERICORDIOSO DO PAI RESTAURA A VIDA DESTRUÍDA PELO PECADO DO FILHO!" - 06 de Março de 2016

Amados irmãos e irmãs, paz e bem em Cristo Jesus!

Continuamos em nossa Caminhada Quaresmal e chegamos ao IV Domingo e, hoje, a Liturgia nos possibilita a graça de experimentar uma espécie de "aperitivo" das Grandes Alegrias da Páscoa: a Liturgia de hoje funciona como uma ante-sala da Grande Sala do Banquete Pascal com todas as suas consequências.   Participar da plenitude de Alegria Pascal exige de nós a aceitação da forma de agir do Pai, a compreensão de que toda a Sua Ação é movida pelo Seu Imenso e Infinito Amor Misericordioso que busca se encontrar com os filhos que Dele se afastaram por qualquer motivo.   O Pai que Ama deseja ter Seus filhos junto a Ele!   Se compreendemos essa forma de agir do Pai, participaremos do Banquete, da Festa Pascal, da Vida Nova que Ele, em Seu Amor Misericordioso oferece a todos, sem exceção!

Assim, a Primeira Leitura (Js 5, 9a.10-12) nos apresenta o relato da chegada do Povo Libertado à Terra Prometida, Terra onde correm Leite e Mel.   Dessa forma, o Senhor cumpre a Promessa feita aos Patriarcas, sobretudo a Abraão de lhe conceder descendência numerosa como as estrelas do céu, além de entregar toda a terra que a planta dos pés dessa descendência pisar.   Deus é Fiel à Aliança e, o texto de hoje nos apresenta a última etapa dessa Caminhada.  

Os filhos e filhas de Deus que sofreram 400 anos (+ ou -) sobre o Regime de Escravidão no Egito, clamaram ao Senhor e Este Ouviu o Clamor, Viu a Miséria e, Compadecido Desceu para libertar e, para tanto, escolheu e chamou Moisés para liderar tal Processo de Libertação.   Libertado, o Povo caminha Deserto adentro e, no Monte Sinai = Horeb = Monte de Deus recebeu as Tábuas da Lei e, prosseguindo a Viagem rumo à Terra Prometida, é sustentado pela Graça e pela Bênção de Deus: água da rocha, maná, codornas, nuvem durante o dia e fogo durante a noite, serpente de bronze para curar as picadas da serpentes abrasadoras do Deserto ...  Tudo Deus fez para Salvar o Seu Povo!   Com tal Povo caminha e vai, passo a passo, construindo a sua Identidade: LIBERTA, ENTREGA A LEI E, HOJE CONCEDE O DOM DA TERRA (última etapa do Processo).

É assim que o Senhor fala com Josué (sucessor de Moisés e que introduz o Povo na Terra Prometida): Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito!   Acampados em Guilgal, planície de Jericó, celebraram a Páscoa = Festa que deu início ao Processo no Egito e que é celebrada em sua conclusão.   Depois da Festa, dia seguinte, o Povo comeu os frutos da terra que não plantaram e, por conta disso, o maná (pão do céu) parou de cair!

Todo esse texto nos oferece a oportunidade de perceber como o Senhor é Bom, Favorável, Indulgente para como o Seu Povo e, mais ainda, como Ele é FIEL à Sua Palavra, à Aliança firmada com os nossos antepassados!

Essa Bondade, esse Amor Misericordioso de Deus que resgata a vida do Povo Oprimido é manifestado, em Sua plenitude, na Vida de Jesus, o Cristo.   Ele é a revelação plena do Pai: se quisermos saber como Deus é, olhemos para Jesus, ouçamos o que diz, vejamos o que faz, percebamos com quem anda, vejamos a quem recrimina e por que o faz, a quem acolhe e por que o faz ... e, dessa forma saberemos quem é, verdadeiramente, Deus.

O Evangelho de hoje (Lc 15, 1-3.11-32) faz parte de uma das mais belas páginas de todo o Evangelho.   Em Lucas, o capítulo 15 é conhecido como o seu CORAÇÃO, isto é, é nele que está a VERDADE MAIS PLENA SOBRE O SER DE DEUS: Deus, o Pai, é Amor e Misericórdia Infinitos!   No texto em questão alguns pontos nos chamam a atenção. Vejamos:

a) Para quem o Senhor conta as Parábolas: às vezes somos tentados a pensar que as Parábolas da Misericórdia são contadas para os "pecadores", os que estavam fora do circuito da Salvação experimentada nos Ritos e Cultos do Templo, os excluídos porque vivendo uma vida "não muito regrada" e, assim por diante.   No entanto, logo no início do percebemos o contrário: são esses "pecadores" que estão se aproximando de Jesus para escutá-Lo e, os "religiosos" de plantão (fariseus e mestres da lei) são os que CRITICAM JESUS por se deixar envolver por tais pessoas.  É essa atitude de crítica dos "religiosos" que levou Jesus a contar as Parábolas, é para essa gente que se pensa melhor que os outros que Jesus conta as histórias para que percebam o jeito de Deus (totalmente contrário do jeito que achavam e pregavam);

b) A Parábola em si: é uma história simples: um pai que possui dois filhos e, eu diria, mais que dois filhos, a parábola apresenta dois jeitos distintos de compreender o ser do filho, há duas formas de viver a filiação.   A questão que ficará no final é sobre que tipo de filhos somos nós (o primeiro, mais moço ou o segundo, mais velho; qual postura nos atrai mais ou em qual postura nos encontramos);

c) O filho mais novo no início da história: audacioso, petulante, tem uma visão da casa do pai como um espaço de não liberdade, pensa que o pai tem "obrigação" de lhe dar a parte da herança que lhe cabe; é aventureiro, esbanjador; quer ter liberdade mas não sabe o preço pois quer obtê-la com o patrocínio do pai;

d) O pai no início da história: demonstra respeito pelo filho mais novo pois mesmo sabendo que a herança era algo que só após sua morte os filhos teria direito e, diga-se de passagem, no mundo antigo, esse direito era reservado ao "filho mais velho" e nunca ao mais moço, o pai resolve dividir a herança pois para o pai não há filho que merece mais ou menos, todos são iguais.   Mesmo não concordando com a postura do filho, porque AMA, deixa-o partir;

e) O filho mais novo longe da casa do pai: tem a enganosa sensação de que a vida estava começando e que a herança recebida seria eterna. Podia comer, beber, esbanjar, fazer o que quisesse sem a "voz chata" do pai orientando, podando a liberdade.   O tempo passa, e o dinheiro, a herança não trabalhada acaba e, como diz o ditado "desgraça pouca é atraso de vida" a região onde se encontrava é acometida por uma forte seca e a fome se abateu sobre a mesma;

f) Dificuldade: tempo de refletir sobre a vida: a vida que começara boa (enquanto se tinha o patrocínio do pai) agora cai em desgraça.  A história é terrível quando fala que a fome do filho era algo tão grandioso e terrível que, recebendo um emprego para cuidar de porcos, o rapaz desejava matar a fome com a comida dos mesmos mas, nem isso lhe davam!   Pensando numa parábola contada para Judeus Piedosos e seguidores rígidos da Lei, isso é um horror pois o porco era considerado impuro e não podia, sequer, ter convivência com os mesmos.   Daí, ao falar que o rapaz queria matar a fome com a comida desses animais impuros mas isso lhe era negado significava dizer que a vida desse infeliz chegou ao mais profundo do fundo do poço que alguém podia chegar.   Não havia nada pior!   É aqui que o filho se toca: na casa do meu pai até os empregados têm pão com fartura e eu aqui morrendo de fome!  Vou-me embora, vou voltar para o meu pai e dizer-lhe: Pai pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados!   E, assim, o filho fez;

g) Encontro com o pai: o filho inicia o seu caminho de volta (conversão = voltar ao princípio = voltar ao ponto de onde a vida começou a sair dos trilhos) mas, para nossa surpresa, o pai avista o filho antes de ser avistado por ele e, tenhamos em mente que o filho não estava igual àquele que saíra de casa tempos atrás pois a vida desenfreada o havia estragado e muito (o pecado devasta a nossa vida): está maltrapilho, com farrapos, descalço, sem o anel da família = está como escravo.  O filho tenta repetir as palavras há muito ensaiadas mas, é importante notar que, quando iria pedir para o pai tratá-lo como um dos empregados, o pai interfere pois para ele (o pai) o filho nunca deixa de ser filho por piores que sejam as suas atitudes: melhor túnica, anel, sandálias são postas no filho e, um novilho gordo é morto para se fazer um banquete, uma festa pois o filho que se pensava morto estava vivo, tinha sido perdido e foi encontrado!   Que beleza de história não fosse a postura do filho mais velho que até agora não deu as caras na história;

h) O filho mais velho: nunca saiu da casa do pai, é correto, cumpridor dos deveres, não desobedece a nenhuma ordem recebida e por conta disso se acha "melhor" que os demais.   Ao ouvir o barulho da festa, retornando de um dia de trabalho intenso, pegunta o que acontecia e recebe a triste notícia: É teu irmão que voltou e o seu pai está dando uma festa por tê-lo recuperado são e salvo!   Essa boa notícia cai com uma bomba no colo desse filho mais velho pois o mesmo não concorda com a postura do pai e acha injusta a festa dada por conta da volta daquele filho que em nada havia colaborada para a riqueza da família, ao contrário, só fez dilapidar o patrimônio;

i) O pai e o filho mais velho: o pai ama os filho igualmente mas os filhos parecem que não se amam dessa forma igual.  O pai tenta mostrar ao filho mais velho que o importante era o irmão que voltara são e salvo e não o dinheiro acumulado; o filho mais velho poderia fazer a festa que quisesse mas, como nunca se comportou como filho mas como empregado da casa do pai, não tinha essa liberdade; nunca compreendeu que estava na casa do pai e, portanto, tudo ali era dele também;

j) O final da parábola: não se diz se o filho mais velho entrou ou não e isso é proposital pois cada um de nós é convidado a se perguntar se entraria ou não nessa comemoração da volta de um irmão que esbanjou os bens da família em uma desenfreada!   Como vive a nossa Comunidade e o que ela faz para esses irmãos (que são muitos, a maioria) em nossos territórios paroquiais?

Por fim, o Apóstolo Paulo, na Segunda Leitura de hoje (II Cor 5, 17-21) nos dá a chave para vivermos a Vontade do Pai em nossas vidas: é preciso reconhecer e aceitar que em Cristo somos criaturas novas e não podemos deixar que a velhice promovida pelo pecado nos afaste do ideal pensado por Deus para cada um de nós.   Em Cristo, o mundo está reconciliado com o Pai e consigo mesmo e, portanto, não há mais espaço para posturas como a do filho mais velho da parábola do Evangelho de hoje!   
Esse Jesus nos faz viver como praticantes da JUSTIÇA DIVINA, isto é, oferecendo a cada um o que cada precisa para viver e não o que cada um fez por merecer!

Que a Celebração desse IV Domingo da Quaresma nos leve a repensar a nossa postura para com os nossos irmãos e irmãs!   Assim seja!

Oremos:

Ó Deus, que por vosso filho realizais de modo admirável a Reconciliação do Gênero Humano, concedei ao Povo Cristão correr ao encontro das Festas que se aproximam, cheio de Fervor e Exultando de Fé!
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo!   Amém!

Boa Celebração para todos!

Pe. Ezaques Tavares

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